A produção industrial brasileira voltou a crescer em janeiro, mas a alta de 2,9% em relação a dezembro ainda não confirma uma retomada do setor. O resultado não foi suficiente para recuperar os dois meses anteriores de queda, e a indústria nacional ainda opera 4% abaixo do patamar recorde de maio de 2011, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na passagem de dezembro para janeiro, os resultados positivos alcançaram todas as categorias de uso. Os destaques foram os setores farmacêutico, veículos automotores e máquinas e equipamentos. No entanto, analistas apontam que a expansão na produção ainda está muito concentrada no segmento de bens de capital - sobretudo caminhões e máquinas e equipamentos -, que deve mostrar um ajuste nos próximos meses, devido à redução dos estímulos para o setor.
"O cenário, no curto prazo, é menos favorável ao crescimento dos investimentos. As taxas de juros reais estão em alta e seus efeitos acumulados sobre os investimentos devem ser mais intensos este ano. Além disso, a confiança dos empresários está em níveis baixos", apontaram os economistas Gabriela Fernandes e Aurélio Bicalho, na avaliação da Divisão de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco.
Os estímulos do governo à aquisição de caminhões e máquinas e equipamentos vinham sustentando a alta na produção de bens de capital descolada do resto da indústria nos últimos meses. A categoria foi a única a registrar resultado positivo em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2013 (2,5%) e em relação ao acumulado de 12 meses (12,1%). Houve influência da concessão de financiamento de grandes proporções para alguns projetos, do programa de renovação da frota de veículos pesados e da supersafra de grãos registrada em 2013, lembrou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Entretanto, a produção da indústria como um todo recuou 2,4% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado de 12 meses, houve aumento de apenas 0,5%. A evolução mais lenta da demanda doméstica e um cenário externo mais adverso explicam o momento de baixo dinamismo. "Seja porque as famílias estão com níveis de inadimplência ainda em patamar elevado, seja pelo comprometimento maior da renda, o crédito mais restritivo, taxas de juros elevadas, esses são fatores que ajudam a entender muito dessa dinâmica que acaba não ajudando a impulsionar a demanda doméstica", afirmou Macedo.
Embora alguns especialistas não estejam convencidos de que o cenário indique uma retomada no parque industrial do País, o horizonte para a indústria em 2014 é favorável, apontou o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza. O câmbio mais desvalorizado e as concessões na área de infraestrutura e logística podem sustentar um aumento na produção de bens de capital.
Fonte: Agência Estado, 12 de março de 2014.