O governo vai repassar para o consumidor, ao longo de cinco anos, a conta do socorro que foi dado na última sexta-feira para as distribuidoras de energia elétrica, de R$ 1,2 bilhão. Essas empresas estavam com dificuldades de caixa para bancar o custo extra da energia gerada pelas termelétricas. A energia está sendo usada por causa da forte seca que atingiu o país no início do ano e impediu a recuperação dos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas. 

Para suprir a deficiência dessa geração, todas as térmicas, que são mais caras e poluentes - usam carvão, gás e óleo combustível -, tiveram de ser ligadas. Na última semana, ao anunciar a medida, o governo não informou de onde sairia o dinheiro, se do Tesouro ou dos consumidores, e também não informou se haveria, como feito no ano passado, um prazo maior para este pagamento. "Da mesma forma como foi feito no ano passado, a antecipação que o Tesouro fez na conta CDE (Conta de Desenvolvimento Energético, espécie de fundo do setor), é claro, seria paga em até cinco anos", disse ontem o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. 

De acordo com Zimmermann, "o decreto alterou algumas cláusulas, mas mantém a mesma característica do decreto do ano passado", quando esse tipo de ajuda às elétricas também foi dada. Em 2013 essa conta ficou perto de R$ 10 bilhões e os repasses, que deveriam começar a recair sobre as tarifas neste ano, foram segurados pelo governo, para não aumentar o preço da energia. Agora, esse repasse de 2013 irá ocorrer em um prazo menor, entre 2015 e 2018. O governo ainda não decidiu se continuará prestando socorro a essas empresas ao longo deste ano e quanto vai pagar por mês. A previsão de gasto das distribuidoras apenas em fevereiro deve ficar em R$ 3,7 bilhões. 

Risco
O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou ontem que o governo está "atento" à questão financeira que vem sobrecarregando as empresas de distribuição de energia e não deixará "que haja qualquer risco" para essas empresas. Segundo ele, a maior necessidade de contratação de usinas térmicas - que vem ocorrendo desde o fim de 2012 em função da seca prolongada que afeta o País - e de compra de energia no mercado livre por essas empresas, a um custo mais alto, resultou em "uma conta grande para ser paga". 

Térmicas 

O setor elétrico está preocupado com o calendário de manutenção das usinas termelétricas, processo que demandará o desligamento temporário de parte dessas geradoras. Movidas principalmente a óleo combustível, carvão e gás, as termelétricas têm sido usadas em larga escala desde o fim de 2012, devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas muitas passaram a ficar ligadas praticamente durante todo o ano. Estudo feito pela consultoria do banco Santander mostra que em maio, ao menos 10% das térmicas terão de passar por manutenção e, em setembro, mais 10% também terão de fazer revisões. 

Com a saída temporária dessas geradoras do sistema e diante das projeções de volume de chuvas para as próximas semanas, a avaliação é que os reservatórios das hidrelétricas podem beirar "níveis problemáticos" em novembro, com apenas 24% de sua capacidade preenchida, segundo a consultoria. 

Chuvas
O diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, afirmou ontem que simulações feitas pelo órgão são capazes de indicar que o País não corre risco de ficar sem energia. "Apenas se vier um regime de chuvas pior que toda a série histórica", afirmou. Apesar da hidrologia ter registrado, em janeiro e fevereiro, a pior situação dos últimos 80 anos, o governo vem identificando uma melhora ao longo do mês de março.

Fonte: Folha de Londrina, 13 de março de 2014.