Felicidade Interna Bruta (FIB). Esse é um conceito que muitas empresas nunca ouviram falar, mas que é essencial que a organização avalie entre os funcionários para poder alinhar uma gestão mais eficaz e continuar crescendo, segundo o especialista em gestão de pessoas Vicente Gomes. Segundo o ele, incluir programa de benefícios, ter salários acima da média do mercado, aplicar uma democracia de ideias, ter transparência e estruturas flexíveis são algumas das práticas comuns encontradas em empresas que estão crescendo exponencialmente no Brasil. "Quando a empresa se preocupa com o desenvolvimento humano dos seus colaboradores, há melhora na produtividade, e isso reflete nos resultados alcançados por ela", garante Gomes. 

O autor do livro "Liderança para uma nova economia – como as empresas estão inovando para uma gestão mais inspiradora e eficaz" fez uma pesquisa com 24 empresas brasileiras, americanas e europeias juntamente com o consultor Mauricio Goldstein, seu sócio na Corall Consultoria de Inovação, e concluiu que as empresas não estão mais baseadas apenas na busca de lucro e riqueza, mas na geração de benefícios para todos seus colaboradores. "Analisamos como se daria a transição de uma empresa já estabelecida e tradicional para um modelo mais humano, conectado a seus stakeholders, mais sustentável e ecologicamente responsável", comenta Vicente Gomes. 

Ele avalia que a gestão precisa valorizar o funcionário, incluir o conceito de família dentro da organização e criar uma empatia com os clientes, para que o crescimento seja alcançado. "Empresas que são amadas pelos clientes geram nove vezes mais lucro do que aquelas que não criam essa relação com os consumidores. Mas para isso, a empresa precisa ser genuína. Ela precisa primeiro ser verdadeira, amada dentro da sua própria organização. Assim, os funcionários passarão esse conceito, esse orgulho em fazer parte dessa família, aos clientes", afirma. 

Para que isso aconteça, ele reforça que os gestores e a diretoria da empresa precisam tomar decisões que sejam boas não somente para a organização, mas analisar se aquela ação será boa no geral, para todos. "Respeito com o ser humano, mudança interna de pensamento. Esse pensamento precisa partir da diretoria, é de cima para baixo que se constrói uma gestão eficiente, focada na felicidade dos funcionários. Criar uma democracia de ideias, visão de mundo mais abrangente, ouvir o que os mais jovens têm a dizer sobre o papel daquela corporação, e realmente valorizar o funcionário", acrescenta. 

Para ele, com a valorização do funcionário e inclusão de benefícios que realmente focam no bem-estar do ambiente corporativo, os resultados a médio e longo prazo são garantidos. "É um caminho sem volta, e muito eficiente", alerta. 

CASO DE SUCESSO
Uma das empresas citadas pelo autor que fez a transição de uma empresa tradicional para um modelo mais humano, conectado a seus funcionários, sustentável e ecologicamente responsável foi a Mercur, empresa brasileira que tem 90 anos de mercado e atua em diversas áreas, como educação, saúde, artesanato e revestimentos. Há alguns anos, a diretoria da empresa, por ter mudado a mentalidade, querendo ser mais sustentável e ecológica, resolveu não atuar mais em negócios importantes, que geravam lucro. "Deixamos de atuar em dois negócios que já faziam parte do nosso dia a dia. Material escolar com marcas licenciadas de personagens infantis e produtos técnicos para a indústria do tabaco. Além destes, a Mercur definiu que não trabalharia também com negócios nos ramos de bebidas alcoólicas, agrotóxicos, jogos de azar, que induzam maus tratos a animais e armamentos", conta um dos fundadores e atual conselheiro da Mercur, Jorge Hoelzel. 

Entre os funcionários, a ação causou estranheza no início. "Uma vez que os nossos princípios, que chamamos de Direcionadores, precisavam ser transformados em ação, o que não é muito comum em algumas empresas, precisou-se construir critérios claros para definir, principalmente, o que não seria mais produzido pela empresa. Ou em quais negócios não estaríamos mais presentes. A partir dessas definições buscamos mostrar que o posicionamento da Mercur não era apenas para a Mercur, mas sim para o planeta, o que fez com que as pessoas passassem a compreender e ajudar." 

O resultado não poderia ser mais positivo. "A empresa tornou-se mais aberta para assuntos que não faziam parte da sua pauta natural de discussões, como temas relacionados ao meio ambiente e, principalmente, a questões sociais como filosofia, antropologia, negócio justo entre outros", ressalta Hoelzel. Além disso, segundo ele, incluir os funcionários nas decisões e projetos novos, os torna mais protagonistas, e traz uma nova dinâmica aos relacionamentos da empresa. "Também com o maior envolvimento dos colaboradores nas decisões de forma geral, a empresa tornou-se mais econômica nas suas despesas." 

Em 2009, o modelo de gestão da Mercur passou a ser mais horizontalizado. "Os antigos diretores foram convidados a se tornarem facilitadores de processos, implicando assim em uma maior proximidade em toda a estrutura. Buscamos trabalhar em espaços muito abertos fisicamente, possibilitando que todas as pessoas se comuniquem com menos ‘filtros’, gerando assim mais participação e autonomia em todas as instancias. Este tipo de ralação torna todo o ambiente mais humano", finaliza Jorge Hoelzel.

Fonte: Folha de Londrina, 10 de dezembro de 2014.