Foi-se o tempo em que a imagem de um gerente, ou de profissionais em cargos ainda mais altos, era vinculada a cabelos brancos, muitos anos de experiência e de idade também. Cada vez mais os jovens ocupam posições de grande responsabilidade dentro das companhias. O G1 conversou com dois profissionais, de 23 e 28 anos, sobre o desafio  (assista ao vídeo). Para o professor da Fundação Getúlio Vargas de Campinas (SP) e consultor empresarial Sérgio Miorin, essa é uma tendência que vem crescendo nos últimos 10 anos.

"É uma tendência constante no mercado. A mudança é muito rápida. Tudo é mais rápido. Eles estão preparados tecnicamente, têm experiência inclusive fora do país", afirma Miorin.

Começaram cedo
A vontade de entrar no mercado de trabalho e de sempre buscar desafios é algo que desperta mais cedo nos líderes natos, pessoas que têm a vocação para ser chefe no sangue. Mesmo assim, muitos podem ser surpreendidos pelo talento.

Foi o que aconteceu com o gerente de operações de um shopping de Hortolândia (SP). Aos 28 anos, Carlos Zambelli não só é chefe, mas também é experiente no assunto. Desde os 17, quando começou a trabalhar como estagiário, a liderança nata não pôde ser contida e já ficou responsável por funcionários efetivados. Sim, um estagiário no comando.

"Cjefiava uma equipe de eletricistas. Sempre me deram responsabilidades de pessoa mais velha, com mais idade", conta.

Atualmente Zambelli lidera uma equipe de 77 pessoas e, inclusive, chegou a comandar funcionários à distância, em Manaus (AM). Aliás, a surpresa por lá foi inevitável quando os colaboradores conheceram o líder.

"Tiveram acesso às fotos dos funcionários e perguntaram 'Quem é o nosso chefe?' e eu sei que se espantaram. 'Quem é esse garoto' é a primeira impressão", diverte-se.

A velocidade em saltar de cargos em cargos também faz parte da carreira do gerente de uma loja de roupas e acessórios na mesma cidade. O jeito sério e acertivo de Leonardo Gaona Novais parecem não combinar muito com os 23 anos dele. A função foi conquistada há dois anos e, nesse período, ele chegou a comandar uma equipe de 14 pessoas.

"Comecei a trabalhar com 17 anos como vendedor, depois fiquei como vendedor responsável por quatro meses. Fui a subgerente e, com 21 anos, virei gerente. Não imaginava que seria tão rápido", conta.

Lideram pessoas mais velhas
Um dos desafios em assumir um cargo de chefia tão jovem é lidar com colaboradores mais velhos. Saber se impor e conquistar o respeito dos funcionários é mais uma característica que parece fazer parte do "pacote" do sangue de líder.

Novais disse que não enfrentou grandes problemas nesse quesito. "Tem que tratar todo mundo igual", ensina.

Já Zambelli conta que é necessário um período de adaptação para que a aparência de "garoto" seja superada pelo conhecimento técnico e pela experiência.

"Percebi que leva em torno de três a quatro meses para as pessoas me aceitarem, perceberem que posso fazer o que elas fazem, que tenho o conhecimento necessário", explica.

Rápida adaptação x conservadores
Para o consultor empresarial, a geração de jovens de "20 e poucos" anos traz um diferencial diante dos profissionais velhos de carteira: se adaptam rápido às mudanças e não são tão conservadores quando os chefes de anos atrás. A necessidade de ter mais de 40 anos, pelo menos, para atingir altos cargos não existe mais.

"O estagiário que entra na empresa já está pensando em ser gerente. O sonho dele é ter o carro, celular e computador da empresa. Eles querem uma ascensão na carreira rápida", afirma.

Mas, para fazer parte desse grupo seleto de jovens, é preciso ter características específicas.

"Para chegar nesse ponto eles precisam de dedicação, confiança, inovação. Precisam ser empreendedores", destaca.

Fonte: G1, 12 de Janeiro de 2015.