A taxa de juros para cartão de crédito atingiu em dezembro o maior índice em 15 anos, ao fechar 2014 em 11,22% ao mês, ou 258,26% ao ano, conforme pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Houve alta em relação a novembro, quando ficou em 10,90% mensais e 246,08% anuais, devido ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, promovida pelo Banco Central (BC) no início do mês passado, bem como a reflexos da pressão inflacionária, que reduz a renda familiar e gera aumento da inadimplência. 

O valor é o mais alto desde março de 1999, quando estava em 11,74% ao mês e em 278,88% ao ano. No caso da taxa média para pessoa física, que inclui ainda o juros no comércio, do cheque especial, do CDC de financiamentos de automóveis, além de empréstimos pessoais em bancos e em financeiras, o índice fechou o ano em 6,30% mensais e 108,16% anuais, acima dos 6,14% e dos 104,43% de novembro. É também a maior média desde março de 2012, quando foi de 6,33% e 108,87%, respectivamente. 

Coordenador da pesquisa e diretor executivo da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira afirma que as taxas tendem a continuar a subir durante 2015, seja porque o BC tende a manter a elevação da Selic, seja porque a inflação ainda pressionará a renda do consumidor. "Os bancos também passarão a ser mais seletivos na concessão do crédito, pela preocupação com a inadimplência." 

Para o chefe do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Renato Pianowski, o risco de aumento do número de devedores deve piorar com a possibilidade de redução dos empregos. "Quanto maior o risco, maior é a taxa que teremos", diz. Ele considera que o governo deve fazer de tudo para deter o consumo e diminuir a inflação e devem ocorrer novos aumentos da Selic, como o de 0,50 ponto percentual de dezembro, que deixou a taxa em 11,75%. 

No curto prazo, Oliveira diz que não há como reverter o processo de alta. "A inflação não vai cair e deve aumentar muito em janeiro, a economia não vai crescer e o desemprego vai aumentar, então não tem como", afirma. No entanto, ele não descarta a possibilidade de um cenário de recuperação no segundo semestre. "Mas só 2016 terá condições para que a taxa de juros volte a baixar." 

Pianowski completa que tudo dependerá do sucesso das medidas do novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. "O governo precisa estimular a produção e enxugar os próprios gastos, já que reduzir os impostos é algo que já mostrou que não vai fazer." 

Pessoa jurídica 

Houve alta também nos juros em operações de crédito para empresas, com aumento em dezembro sobre novembro nas taxas cobradas sobre capital de giro (de 26,23% para 26,82% ao ano), em descontos de duplicatas (de 35,44% para 36,07%) e na conta garantida (de 99,86% para 101,68%). Pianowski diz que a tendência é que esse custo extra seja repassado ao preço dos produtos, o que deve gerar mais inflação. "Só não dá para falar que os empresários vão segurar os investimentos porque já fizeram isso há muito tempo."

Fonte: Folha de Londrina, 13 de Janeiro de 2015.