Apesar de ter crescido em dezembro, o índice de paranaenses endividados em 2014 ficou estável em relação a 2013. Na média, 87,5% da população possuía algum tipo de conta ou dívida com cheques pré-datados, cartões de crédito, carnês de lojas, empréstimo pessoal, compra de imóvel e prestações de carro ou de seguros no ano passado. Em 2013, eram 87,37%, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio/PR). 

No último mês do ano, o índice de endividados totalizou 88,6% da população, contra 87,4% em novembro. Em dezembro de 2013, o indicador era de 84,4%. Dezembro também apresentou alta nas contas em atraso, com 27,1% ante 24,3% em novembro, e aqueles que disseram não ter condições de pagar as dívidas passaram de 10,8% para 11%. Já a média anual de consumidores com contas atrasadas sem condições de quitação imediata ficou em 9,8%. 

De acordo com o vice-presidente da Fecomercio/PR, Paulo Nauiack, o Paraná tem nível de endividamento acima da média nacional, que é de 72%, e vem mantendo esse índice desde 2012. Nauiack ressalta, no entanto, que o endividamento em si não deve ser considerado ruim enquanto houver capacidade de pagamento. "O que nos preocupa é se tiver um aumento da inadimplência (contas com mais de 90 dias de atraso); dívidas bem administradas são muito bem-vindas", defende. 

Nauiack diz que o setor vê com preocupação a atual situação econômica do País, no entanto, acredita em uma recuperação econômica no segundo semestre deste ano, se "os governos fizerem o dever de casa". Dentre as ações indispensáveis para a entidade estão a redução de despesas da máquina pública e a recuperação da credibilidade governamental. O vice-presidente diz esperar inovação por parte dos empresários para enfrentar a crise. 

"É um quadro que temos que olhar com cuidado, sabemos que o crédito vai estar mais restrito, mas vamos ter que nos reinventar para evitar uma possível estagnação", destaca. Para a Fecomércio, as turbulências na economia geraram uma crise de confiança nos consumidores, que retraíram os gastos no ano passado. Por isso, o indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) decresceu ao longo do ano, caindo de 151,4 pontos em janeiro para 133,2 em dezembro, considerado o melhor mês das vendas do comércio varejista. O máximo é de 160 pontos. 

Pressão
O economista e professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Londrina, José Luis Dalto, comenta que em economias mais maduras, como a dos Estados Unidos, o endividamento é algo natural, por refletir o acesso da população a bens de maior valor. Ele enxerga um viés positivo na estabilidade do percentual entre os paranaenses. 

"Se não houve decréscimo, isso aponta que não estamos em recessão, apesar da economia estar crescendo muito pouco", destaca ele. Já o aumento no número de pessoas que não devem conseguir quitar as dívidas - que saiu de 9,2% em janeiro para 11% em dezembro - deve ser encarado com preocupação, alerta Dalto. O economista acredita em um 2015 de pressões por parte parte dos trabalhadores para aumento da renda, em função do endividamento. 

"Vai ser um ano de pressões para melhorar a renda, porque nos últimos dois anos o ganho salarial real não foi tão expressivo", explica. Paralelo a isso – e para evitar maiores danos à economia – Dalto indica que os governos precisam incentivar as empresas a venderem mais, inclusive, liberando mais crédito. 

Fonte: Folha de Londrina, 13 de Janeiro de 2015.