O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode fechar o ano de 2015 em queda, segundo previsões do mercado no último Boletim Focus. Pela primeira vez no ano, o levantamento, divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC), apontou a possibilidade de a economia do País sofrer retração. A queda de 0,42% deve vir acompanhada de inflação acima do teto da meta (7,27%) e novo aumento da taxa básica de juros (Selic), que pode alcançar 12,75%. O próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem a investidores que o crescimento econômico pode ser negativo esse ano e o pessimismo do mercado ecoa nos setores produtivos, que já engavetam planos de investimentos.
Parte do desempenho negativo do PIB se justifica pela piora nas projeções para a indústria, que, até semana passada, registrava expectativa de crescimento da produção de 0,44%. A previsão piorou nesta semana e passou a ser de queda de 0,43%. Segundo o economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Roberto Zurcher, ainda não se sabe "onde vai ser o fundo do poço", diante de tantos problemas econômicos. Ele aponta o aumento nos custos - como a energia elétrica mais cara e a volta da alíquota do IPI para alguns setores - como um ponto que compromete a competitividade."
Os investimentos, desde o ano passado, estão nas gavetas, a não ser alguma coisa estratégica, porque não se vê perspectiva de melhora do mercado e ainda tem aumento do custo", diz. Zurcher estima uma reação da economia no último trimestre deste ano, no entanto, com crescimento apenas em 2016. Em relação ao Paraná, o desempenho da agricultura pode determinar uma reação do PIB estadual, na opinião do economista, mas o futuro da indústria local permanece incerto."Talvez tenhamos recuperação em 2015, porque a indústria sofreu grande queda em 2014 (-5,5%), esperamos que já tenha atingido o fundo do poço", declara.
O presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Valter Orsi, diz que os indicadores que apontam para uma possível recessão confirmam as expectativas negativas do setor empresarial. Ele ressalta que a alta do dólar massacra a competitividade nacional, uma vez que a indústria é altamente dependente de produtos importados."Para ficarmos competitivos vamos buscar componentes lá fora, mas com o dólar alto, o componente fica caro e inviabiliza", explica.
O Boletim Focus projeta que o dólar deve subir ainda mais até o fim do ano, chegando a R$ 2,90. Até a semana passada, a expectativa era de uma taxa menor, de R$ 2,80. Ontem, a moeda norte-americana fechou o dia cotada a R$ 2,84. Orsi afirma que os industriais veem na competitividade a única possibilidade de melhora nos índices do setor, com capacitação de mão de obra e alteração de métodos internos.
"Se buscarmos essa vantagem com infraestrutura, taxa de juros competitiva, menor carga tributária, isso já foi sinalizado que não vamos ter", aponta. O presidente da Acil se diz preocupado, também, com os índices oficiais de desemprego, que não contabilizam pessoas que deixaram de procurar ocupação. "Para aumentar o PIB, temos que ter mais gente trabalhando, para aumentar a produção e gerar riqueza. Aqui temos o contrário", afirma.
Fonte: Folha de Londrina, 19 de fevereiro de 2015.