Em pleno século XXI, água e alimentos contaminados ainda fazem vítimas mundo afora. Segundo uma estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgada ontem, quando se comemorou o Dia Mundial da Saúde, a cada ano 2 milhões de pessoas morrem após ingerir água e comida contaminadas. Somente em 2010, ocorreram 582 milhões de casos relacionados a 22 tipos de doenças de origem alimentar e, pelo menos, 351 mil óbitos ligados a este tipo de problema. As bactérias salmonella, E.coli e o norovírus, este presente no intestino de alguns animais, são os agentes responsáveis pela maioria das mortes.
Apesar da África e do sudeste asiático terem sido identificados como as regiões com maior ocorrência de casos de doenças de origem alimentar, a OMS alerta que a globalização da produção de alimentos tende a tornar o problema da segurança alimentar uma questão internacional. "A investigação de um surto de doença de origem alimentar é muito mais complicada quando uma única embalagem de alimento contém ingredientes de diversos países", disse Margareth Chan, diretora-geral da entidade.
Ainda de acordo com a OMS, alimentos contaminados podem provocar mais de 200 tipos de doenças, desde diarreia a câncer. Entre os alimentos considerados não seguros estão os mal cozidos de origem animal e frutas e vegetais contaminados por fezes.
FALSO CONFORTO
Para o engenheiro sanitarista Miguel Mansur, docente na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Brasil vive uma situação diferenciada em relação às regiões citadas pela OMS, mas o aparente "conforto" em termos de tratamento de água e esgoto é mais quantitativo do que qualitativo. "Estamos cada vez mais introduzindo substâncias nos produtos e não sabemos se as estações de tratamento vão conseguir tirar tudo isso da água", comentou.
A maior fragilidade em relação à qualidade da água, observou ele, está nas camadas sociais mais desassistidas. Isso inclui não só áreas rurais como também áreas de ocupação irregular, onde, embora possa existir tratamento da água fornecida, nem sempre há rede de esgoto. "Com água tratada, a produção de esgoto tende a aumentar. O elo mais frágil é a criança, que pode ter contato com esta produção que vai para as fossas", disse. Infelizmente, ponderou o engenheiro, as políticas de saneamento brasileiras são, em sua maioria, urbanistas. "A zona rural ainda não tem uma política e recursos adequados para lidar com saneamento".
O diretor do Instituto das Águas do Paraná, Everton Souza, afirmou que o público também deve fazer sua parte para tentar promover a segurança alimentar em seu meio. "Do ponto de vista sanitário, a água tratada é garantida, mas as pessoas precisam fazer a limpeza interna de suas caixas d’água pelo menos uma vez por ano", recomendou. Outro cuidado sugerido por Souza é na questão do próprio manuseio e preparo dos alimentos, como carnes cruas. Ele considerou as fossas sépticas um recurso técnico aceitável em algumas comunidades, mas analisou que o ideal seria afastar o efluente das residências através de uma rede de esgoto completa.
Fonte: Folha de Londrina, 08 de abril de 2015.