O Paraná é o terceiro estado com o maior número de mortes em acidentes de trabalho. Os dados são do Anuário Estatístico da Previdência Social 2013, divulgado este mês pelo governo federal. Segundo as estatísticas, o Estado registrou 270 mortes de trabalhadores em 2013, atrás apenas de São Paulo (721) e Minas Gerais (334). O estudo mostra ainda aumento de 19% no número de mortes no Estado no período de dois anos.
No mesmo ano, 1.353 pessoas ficaram incapacitadas permanentemente no Estado. Em relação ao número geral de acidentes, o Paraná aparece na quinta posição do ranking, com 53.132 ocorrências, atrás também de Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em todo o País, foram registrados 737.378 acidentes, com 14.837 incapacitados e 2.797 mortos. O anuário aponta também, de 2011 a 2013, redução de 3,1% no número de acidentes com homens e aumento de 6,4% com mulheres.
Dados mais atualizados da Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) mostram um cenário ainda mais preocupante. Conforme o órgão, o Paraná registrou quase uma morte por dia em acidentes de trabalho no ano passado. Foram 363 acidentes fatais. "É inadmissível que tantas pessoas saiam de casa para buscar o pão do dia e não retornem", analisou José Lúcio do Santos, diretor do Centro Estadual de Saúde dos Trabalhadores, órgão ligado à Secretaria de Estadio de Saúde (Sesa).
Segundo Santos, o número de vítimas pode ser ainda maior. "Este aumento nos dados do número de mortes nos últimos anos não representa, necessariamente, mais mortes. O que ocorre é que melhoramos nosso sistema de notificação. Porém, não descartamos que ainda haja subnotificação", admitiu. "Somente quando soubermos a situação real poderemos traçar metas", justificou.
PREVENÇÃO
O diretor ressaltou que somente a aprovação da Política Estadual de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, em 2011, antes mesmo da política nacional, deu impulso para as ações voltadas à prevenção. "Além da linha de educação permanente, com prevenção, o Estado trabalha com financiamento para que empresas substituam equipamentos obsoletos, evitando assim acidentes", contou.
A procuradora do trabalho Ana Lucia Barranco, coordenadora do Fórum de Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho do Estado do Paraná (FPMAT-PR), também salientou que os números precisam ser relativizados, levando em consideração a proporção entre acidentes e população economicamente ativa. "Pode ocorrer que o Paraná notifique mais, devido à maior capacitação dos profissionais de saúde, o que não necessariamente quer dizer que aqui haja mais acidentes", ponderou ela por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho no Paraná.
OBSTÁCULOS
Para a promotora, o principal obstáculo para a redução dos acidentes é a falta de investimento em prevenção. "Não é barato investir em maquinário, equipamentos de proteção de qualidade, mantendo sempre em condições de uso, porém o retorno é garantido", pontuou. Ela citou os custos para as empresas e para o próprio país nos casos de acidentes de trabalho. "A empresa vai ter que pagar e a previdência também. Os custos são muitos maiores que o investimento na prevenção", comparou.
BENEFICIÁRIOS
Em reunião recente do Fórum de Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho do Estado do Paraná, ocorrida na sede do Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) informou que são concedidos, anualmente, cerca de R$ 12 bilhões em benefícios acidentários no Brasil. Em 2013, como tentativa de reaver esses valores, a Previdência ajuizou 536 ações referentes a acidentes de trabalho, com expectativa de arrecadações em torno de R$114 milhões. A reportagem tentou contato com o INSS, em Brasília, mas não recebeu retorno até o fechamento da edição.
Fonte: Folha de Londrina, 14 de abril de 2015.