Sindicatos filiados à CUT (Central Única de Trabalhadores) e a outras entidades sindicais promovem manifestações nesta quartafeira (15) em estradas e no transporte público de diversas cidades do país contra o projeto de lei de terceirização. No dia anterior (14), impasse no Congresso adiou a votação do projeto de lei que flexibiliza as leis trabalhistas e ampliam a terceirização. Há protestos nesta manhã em pelo menos quatro Estados (SP, MG, ES e RS), mas a Federação Nacional dos Portuários diz que vai haver ainda atos nos portos do Rio, Recife e de Belém. Em São Paulo, os protestos tiveram impacto sobre o trânsito na zona oeste
Das 6h55 às 7h55, cerca de 100 integrantes do movimento Luta Popular bloquearam a rodovia Anhanguera na altura do km 19, sentido São Paulo, informou o Grupo CCR, que administra a via. O tráfego chegou a ser desviado na altura do km 50 para a rodovia dos Bandeirantes. Após liberarem a pista principal, os manifestantes bloquearam a pista marginal. Essa foi liberada às 8h22. O 4º batalhão da Polícia Rodoviária afirma que não houve nenhuma ocorrência grave. O Luta Popular reivindica acesso a moradia através de três ocupações, uma em Osasco, na Grande São Paulo, outra no bairro Jardim Ângela e outra em Interlagos, na zona sul de São Paulo. "Somos contra a terceirização porque ela causa problemas para as famílias mais pobres, que são o público das ocupações", afirmou Helena Silvestre, uma das coordenadoras da ocupação de Osasco, cujos participantes fecharam a Anhanguera. O grupo protestou também contra cortes em programas governamentais de acesso à moradia. Segundo Silvestre, as outras ocupações planejam fazer bloqueios entre as 9h30 e 10h na estrada do M'Boim Mirim, próximo à avenida dos Funcionários Públicos e na avenida Interlagos, próximo ao hospital Pedreira. Em São Paulo, outro grupo de trabalhadores da USP (Universidade de São Paulo) bloqueou por volta das 7h a avenida Afrânio Peixoto, próximo ao portão da universidade, zona oeste de São Paulo, segundo a TV Globo. Na Grande São Paulo, um grupo parou às 7h30 o km 15 da pista local da rodovia Anchieta, no sentido litoral, em São Bernardo do Campo. A Ecovias, concessionária que administra o trecho, desviou o trânsito na altura do km 13 para a pista central e os motoristas seguem viagem normalmente. MINAS GERAIS E ESPÍRITO SANTO Em Minas Gerais, um grupo protestava por volta das 7h na portaria da Regap (Refinaria Gabriel Passo), em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte. A PRF informou que a manifestação não prejudica o trânsito na BR381, mas pediu para os motoristas evitarem trafegar pela rodovia. Em Vitória (ES), a PRF (Polícia Rodoviária Federal) desviou por volta das 6h o trânsito local com destino a São Torquato devido a manifestações na Vila Rubim. Antes, na região metropolitana, por volta das 4h, um carro de som parou em frente a uma empresa de ônibus, na cidade de Serra, chamando os trabalhadores para participar dos protestos. OUTRAS ESTRADAS EM SP Uma passeata também interrompe o trânsito na pista expressa da rodovia Anhanguera, no sentido São Paulo. O trânsito está interrompido entre o km 24 e km 19. Já no Rodoanel um ato interrompe o tráfego no sentido rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo. O protesto provoca lentidão do km 12 ao km 10 da via. Manifestantes também interditaram por cerca de 40 minutos a pista sentido SP da rodovia Presidente Dutra, no km 230, em São Paulo, na manhã desta
quarta. Segundo a PRF, a pista ficou interditada das 5h50 às 6h30 e reuniu cerca 200 pessoas, que seguravam faixas contra o projeto de terceirização. No Rio Grande do Sul, estão totalmente parados os trens que ligam Porto Alegre a cidades da região metropolitana. Também na capital gaúcha, há paralisação parcial dos ônibus urbanos, que foram impedidos de sair de uma das garagens. PROTESTOS MAIS TARDE Paralisações parciais devem ocorrer ainda em quatro montadoras do ABC paulista –Ford, MercedesBenz, Scania e Volkswagen– e em fábricas de São José dos Campos e outras cidades do interior de SP. Na capital paulista, uma concentração está prevista para ocorrer às 15h desta quartafeira em frente à sede da Fiesp, federação que representa as indústrias de São Paulo, na avenida Paulista. Segundo dirigentes da CUT, bonecos que representam políticos que estão "trabalhando" para aprovar o projeto serão queimados durante a manifestação. Devem participar do protesto militantes ligados a movimentos por moradia – como a CMP (Central dos Movimentos Populares)– que farão uma caminhada até a sede da Caixa, em São Paulo. No largo da Batata, manifestantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores SemTeto) e outros movimentos sociais devem vir em passeata e se juntar ao ato na Paulista. Às 16h30, o movimento por moradia Luta Popular, que parou a Anhanguera pela manhã, pretende usar 10 ônibus para levar cerca de 500 pessoas ao ato no Largo da Batata, zona oeste de São Paulo. Segundo a coordenadora Helena Silvestre, os manifestantes podem fechar vias na região. ADESÃO De acordo com Eduardo Guterra, presidente da Federação Nacional dos Portuários e dirigente da CUT, os trabalhadores dos portos de Santos, Rio, Vitória, Salvador, Recife, Rio Grande e Belém decidiram que devem fazer operação padrão e atos públicos em frente às empresas portuárias para marcar o dia de protesto. Segundo José Maria de Almeida, integrante da coordenação do Conlutas, além dos metalúrgicos do interior paulista, representados pela central, operários da construção civil de Fortaleza e Belém e motoristas de ônibus do Ceará também devem aderir aos protestos desta quartafeira. Entre os petroleiros, pode haver paralisação ainda na refinaria de Paulínia (SP). MOTIVOS As centrais e movimentos populares entendem que, com a aprovação do projeto de lei, o trabalhador contratado diretamente por uma empresa poderá ser demitido para que um terceirizado seja contratado, "com diminuição de salários, de direitos e aumento da jornada de trabalho". Já as entidades empresariais e defensores do projeto informam que haverá mais segurança jurídica para as empresas contratarem e maior proteção social aos terceirizados. O presidente da CUT, Vagner Freitas, afirmou que o projeto " não traz benefícios nem para a economia brasileira nem para os trabalhadores". De acordo com o sindicalista, "ele garante única e exclusivamente tranquilidade jurídica porque o projeto impede ações na Justiça e muito mais lucros para os empresários".
Fonte: Folha S. Paulo, 15 de abril de 2015.