Quando Lourdes da Silva Costa, hoje com 63 anos, deixou o sítio em que morava com o marido e quatro filhos em Alvorada do Sul, uns 30 anos atrás, veio para a cidade e, para ajudar no orçamento de casa, decidiu trabalhar limpando a casa dos outros. De lá para cá vieram outros dois filhos e ela trocou o trabalho de boia fria pelo de empregada doméstica, profissão celebrada neste 27 de abril. “É a única coisa que sei fazer. E faço bem. Tenho orgulho”, diz.

Analfabeta, quando criança morou em diversas fazendas às quais o pai ia trabalhar. Aprendeu a carpir data, colher cana, lavorar o café. Mas, sem instrução, teve de escolher a profissão que trabalha há 30 anos. “É horrível”, avalia Lourdes. “Porque é muito cansativo. Faço porque preciso. Tem dias que chego morta em casa”, justifica. Embora tenha trabalhado em apenas uma família nos primeiros seis anos de profissão, hoje ela divide a semana em diversas casas. “Tem uma que eu vou que tem 12 cômodos, quatro banheiros.”

Tudo começou quando o marido dela trabalhava como pedreiro. Para sustentar os quatro filhos que na época tinham, quando chegaram a Londrina, Lourdes decidiu trabalhar fora de casa. Deixava dois filhos com a mãe e outros dois, um pouco mais velhos, acompanhavam o pai no serviço. “Eu morava ali na favela da Bratac. Não ia deixar meus filhos em casa para aprenderem a usar droga. Então, os mais novos ficavam com minha mãe e os mais velhos iam com o pai. Como não podiam trabalhar, ficavam lá desentortando prego.”

Nesse tempo, Lourdes trabalhava em apenas uma casa. Depois, no entanto, já com mais dois filhos, decidiu que ia ser diarista. “Tem família que quer que a gente trabalhe de sábado”, explica. Assim como ela, a advogada Regiane Leitão Ermel, que representa o Sindicato dos Empregadores Domésticos de Londrina (Sedel), também considera que a profissão devia ser mais valorizada. “Os direitos são lançados, mas não são regulamentados. Elas têm que ser valorizadas”, afirma.

De acordo com Regiane, existem no Brasil uma estimativa de 6 milhões de empregados domésticos. “Eles impulsionam as pessoas a trabalharem. Se não tivessem um empregado doméstico, muitas pessoas, inclusive as mulheres, não poderiam trabalhar.” Um serviço que se repete, embora seja extremamente necessário. “Digo que é um trabalho que não tem fim.”

Fonte: Jornal de Londrina, 27 de abril de 2015.