A agência internacional de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) reduziu ontem a nota de avaliação do Brasil de "BBB" para "BBB-". Apesar da queda, a nota do País continua no chamado grau do investimento - ou seja, de mercado considerado seguro para se investir. Mas está no menor nível dentro desse patamar, segundo os critérios de análise da agência. Segundo a agência, a redução reflete a combinação da situação fiscal difícil no Brasil e uma piora nas contas externas. 

De acordo André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o rebaixamento não foi uma surpresa. "Investidores já esperavam que isso ocorresse em algum momento, o que, de certa forma, já vinha sendo embutido nos preços dos ativos brasileiros (como ações e juros)." 

Ainda na avaliação de Perfeito, a mudança da nota mostra a desconfiança da agência de risco na capacidade do governo de cumprir o que tem prometido na área fiscal e, principalmente, as políticas conflitantes na área econômica. "Temos, por exemplo, uma política fiscal frouxa (muitos gastos do governo) e uma política monetária apertada (aumentos constantes da taxa de juros para tentar conter a inflação)", diz. 

Mas o economista ressalta um aspecto considerado positivo no anúncio de ontem da S&P: o fato de que a perspectiva para a nota do País, agora, passou de "negativa" para "neutra". "Isso quer dizer que o Brasil tem cerca de um ano, tempo em que a agência costuma reavaliar as notas, para mostrar que consegue fazer os ajustes de que precisa." 

A expectativa de um possível rebaixamento se arrasta desde o ano passado. Na última semana, representantes da S&P se reuniram com membros do governo para discutir as perspectivas das contas públicas. A S&P foi a primeira agência a elevar o Brasil ao nível de grau de investimento, em 2008, tirando o País da lista de economias consideradas "especulativas". 

Em junho do ano passado (2013), a companhia colocou a nota brasileira em observação, com possibilidade de rebaixamento. Apesar das críticas aos erros das agência de risco na crise econômica mundial, essas avaliações ainda servem de parâmetro para grande parte do mercado internacional. 

Agências
O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro - ou seja, com baixo risco de calote. As três agências de risco de maior visibilidade no mundo são a Standard & Poor's, a Moody's e a Fitch Ratings. 

As empresas de avaliação de risco são contratadas para fazer essa análise, que é uma opinião. Apesar disso, argumentam que, mesmo sendo atribuída mediante encomenda de agentes financeiros, a nota de risco é uma avaliação independente e confiável porque há uma preocupação com a credibilidade da própria agência. 

Vale destacar, porém, que, na quebra do mercado imobiliário americano que esteve no epicentro da crise de confiança global desencadeada em 2008, papéis do setor que se mostraram "ativos podres" tinham nota máxima das agências de classificação de risco com grau de investimento. As notas emitidas são expressas na forma de letras e sinais aritméticos.