As altas das tarifas e da inflação em geral, combinadas com a retração da economia e com o aumento do desemprego, deixaram as famílias com menos dinheiro para pagar as despesas básicas, como luz, telefone e água. No mês passado, o atraso no pagamento das contas de energia elétrica e de telefone cresceu o dobro da variação média da inadimplência em geral do consumidor na comparação com maio de 2014.
O calote nas contas de energia elétrica em maio aumentou 13,94% em número de pessoas em comparação com igual período do ano passado, enquanto a inadimplência média do consumidor avançou 6,7% no mesmo período e foi a maior marca desde dezembro de 2012, segundo dados do SPC Brasil.
Estudo feito pela Serasa Experian, outra empresa especializada em informações financeiras, aponta para a mesma direção. Entre janeiro e abril, a inadimplência das contas de luz foi 11% maior em relação ao primeiro quadrimestre de 2014 e quase três pontos porcentuais acima da atingida em dezembro do ano passado quando foi de 8,3%.
O aumento do calote se repete nos serviços de comunicação, que envolve principalmente telefonia fixa e móvel, e que registrou alta no atraso do pagamento de 12,02% em maio comparado ao mesmo mês do ano passado, de acordo com o SPC Brasil. Segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), no primeiro trimestre deste ano, a inadimplência respondia por 1,8% da receita bruta das empresas contra 1,5% no mesmo período do ano passado. Na conta de água, a inadimplência nacional cresceu 10,43% no período.
Segundo dados do SPC Brasil, na região Sul o índice de inadimplência das contas de energia, água e comunicação que era de 5,42% em maio de 2014 passou para 6,06% em maio de 2015. A Copel foi procurada pela reportagem para comentar o assunto, mas não retornou até o fechamento desta edição.
Na Sanepar, que atende os consumidores do Paraná, a inadimplência em maio de 2014 era de 3,33% e, no mesmo mês deste ano, passou para 3,45%. A empresa informou que é considerado inadimplente, o cliente que atrasa as contas por mais de 30 dias. A partir do primeiro mês de atraso, a companhia já está autorizada a fazer o corte do fornecimento de água, mas a suspensão do serviço geralmente ocorre após 48 dias do vencimento da fatura. Segundo informações da empresa, para ter o serviço restabelecido, o cliente precisa renegociar a dívida e pagar, no mínimo, 40% do valor devido.
Crescimento
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, destacou que a inadimplência até 90 dias das contas de luz, por exemplo, cresceu num ritmo muito superior aos atrasos ocorridos há mais de três meses. "São as dívidas novas que estão puxando para cima a inadimplência", afirmou.
Reajustes extraordinários das tarifas tiveram impacto direto na inadimplência. No caso da energia elétrica, o aumento das tarifas foi de quase 60% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice de Preço ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), medido pelo IBGE, por causa do custo maior de produzir eletricidade. No caso da água, a alta medida pelo mesmo indicador foi de 5,12% e, nos pacotes de telefone com internet, de 2,81%. Mas, a economista lembra que o aumento da inflação em geral também pesou no bolso dos consumidores. Em 12 meses, até junho, o IPCA-15 acumula uma alta de 8,80%.
"Vemos a inadimplência crescendo também nos bancos", diz Marcela. De acordo com o SPC Brasil, a inadimplência bancária, puxada principalmente pelo cartão de crédito e pelo cheque especial, aumentou 10,1% em maio ante o mesmo mês de 2014 e representou quase a metade das pendências. Segundo ela, as pessoas começaram a usar o cartão de crédito e o cheque especial para cobrir as despesas básicas do mês.
Fonte: Folha de Londrina, 23 de junho de 2015.