As londrinenses Cynthia Miranda, de 45 anos, e Thais Fernanda Cavalcante, de 18, escolheram o curso técnico em enfermagem e estão otimistas com as futuras oportunidades de trabalho. Já Luzia Freire Feijó, de 15, e Layne K. S. Veras, de 16, optaram pelo curso de qualificação em padeiro confeiteiro e também estão de olho nas vagas abertas. 

Mas além da expectativa de arrumar um emprego, o que mais essas pessoas têm em comum? Elas exemplificam um contingente de homens e mulheres que, nos últimos anos, está apostando nos cursos de qualificação e de formação técnica, visando as oportunidades do mercado de trabalho. 

Todo esse movimento pode ter diversas justificativas, mas é fato que a escassez de mão de obra em alguns cargos e profissões vem tornando muitas áreas mais atrativas que no passado. Por um lado está a dificuldade de empregadores em preencher vagas e, por outro, estão aqueles que não querem perder essas chances. 

A pesquisa Escassez de Talentos 2015, realizada recentemente pelo ManpowerGroup, destaca que o número de empregadores globais que relataram escassez de talentos chegou a 38% este ano, o mais alto índice entre as últimas sete pesquisas. Ao direcionar essa análise para o Brasil, ele surge em quarto lugar entre os cinco países com maior dificuldade para preencher posições, somando 61%. Levantamento contou com a participação de mais de 41,7 mil empregadores de mais de 42 países. 

Nesse contexto, as vagas de técnicos e trabalhadores de ofício manual, em especial chefes de cozinha, padeiros, açougueiros, mecânicos e eletricistas, lideram o ranking entre os dez principais cargos. E os motivos mais acentuados foram a falta ou ausência de candidatos (35%), a falta de habilidades técnicas (34%) e a falta de experiência (22%). 

FORMAÇÃO
A diretora de Recursos Humanos (RH) Estratégico e Marketing do ManpowerGroup, Márcia Almström, comenta que nos últimos anos ficou muito evidente o gap (lacuna) de profissionais na área técnica, considerando que o Brasil não formou técnicos no volume que demanda um país em desenvolvimento. 

No entanto, ela ressalta que essa responsabilidade não ficou somente na esfera dos sindicatos, universidades e do governo. "Tivemos no Brasil um movimento de interesse e foco dos jovens para os cursos superiores. Paralelamente a isso, houve uma pulverização de instituições de ensino e o interesse em formação mais na área de Humanas. Tudo isso passou a estabelecer nossa realidade atual", avalia. 

Porém, nos últimos dois anos e meio, Márcia aponta que surgiram iniciativas direcionadas para a formação técnica, através de programas federais e também do empresariado que passou a assumir o papel formador. "Para contratar hoje é preciso flexibilizar no perfil e assumir parte da responsabilidade na formação das pessoas", diz. 

Ao lançar uma análise sobre as profissões de ofício manual, Márcia diz que por muito tempo tiveram baixo valor agregado, até porque, obrigatoriamente, a formação ou qualificação não era uma exigência. Somado a isso, havia a questão da remuneração não atrativa. "Mas com o passar dos anos, esses profissionais passaram a deparar com a possibilidade de se desenvolver em outras áreas, de maior reconhecimento e isso acabou gerando uma carência", completa. 

No entanto, o cenário hoje está diferente. "Acho que eles já estão mais valorizados. Com o passar do tempo serão profissões mais sofisticadas e a procura tende a continuar. Naturalmente, vai se esperar mais qualificação dessas pessoas", afirma.

Fonte: Folha de Londrina, 29 de junho de 2015.