Apesar das dificuldades atuais da economia brasileira, em nível nacional o Paraná ainda mantém índices privilegiados: ocupa a terceira posição no Valor da Transformação Industrial (equivalente ao Produto Interno Bruto industrial), a quarta posição em número de trabalhadores (677.363) e a quinta posição em número de estabelecimentos (33.037), conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), referentes a 2014, e da Pesquisa Industrial Anual (PIA), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tendo como referência o ano de 2013. Dentro desse contexto, a mesorregião do Norte Pioneiro paranaense também avança e presta importante contribuição para o desenvolvimento da indústria estadual: no período de 2007 a 2014 (última Rais) obteve um crescimento de 22,67% com relação ao número de estabelecimentos, aumentando em 9,2% o número de trabalhadores. Ainda de acordo com informações do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), no período de 2005 a 2012, a região também apresentou aumento de 77,99% no valor adicionado bruto (VAB) da indústria.
"Este crescimento bem acima da média nacional foi consequência de alguns fatores externos, como as políticas econômicas de incentivo à atração industrial (Paraná Competitivo e versões anteriores), a oferta de energia elétrica e de telecomunicações de qualidade, localização e, principalmente, a mão de obra qualificada e disciplinada", destaca o economista Roberto Zürcher, do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Dentre os fatores internos que beneficiam essa projeção positiva, ele ressalta a diversificação da estrutura industrial, que é composta principalmente do agronegócio (interior do Estado), a geração de combustíveis (petróleo na RM de Curitiba e biocombustíveis no interior), a produção de automóveis, madeira, papel e celulose (interior do Estado). A indústria de produtos alimentares também foi destacada por, na atualidade, estar conseguindo equilibrar o balanço de empregos na indústria paranaense.
Como principal desafio para ampliar a produção industrial do Paraná, o economista aponta a melhoria na infraestrutura de transporte e a simplificação do sistema tributário nacional e estadual. "Isto não significa apenas rodovias duplicadas, mas também o barateamento do custo de uso das rodovias. A estrutura ferroviária também deveria ser ampliada e melhorada para aumentar a competitividade. Reduzir o custo administrativo das empresas também é necessário", assinala.
EXEMPLO DE SUCESSO
Considerada a maior empresa do sul do País no ramo de construção mecânica, a Jumbo Indústria Mecânica Ltda começou modesta, há 38 anos, em um barracão de 200 m², no município de Assaí. Contando com um pequeno torno mecânico, o foco era prestar serviços de manutenção para equipamentos ligados à produção algodoeira, que vivia o seu auge na região. Com o declínio gradativo do "ouro branco", diversificar a área de atuação foi o "pulo do gato" da empresa, que hoje é referência no mercado e trabalha simultaneamente com projetos nacionais e internacionais - que duram de seis meses a um ano - e envolvem desde a construção de turbinas e geradores para hidrelétricas, plataformas petrolíferas e até motores para submarinos. O manejo industrial impressiona pela quantidade e dimensão das peças de aço que são fabricadas ao mesmo tempo num único local.
Com duas unidades fabris - uma na entrada da cidade com 45 mil m² e outra na PR-090 com 29 mil m² -, a empresa emprega 465 funcionários. Nos últimos meses, devido à crise econômica, chegou a demitir 165 empregados, mas já prevê novas contratações. Liderando a empreitada estão os irmãos Marco Antonio Bomtempo, de 61 anos, e Michel Angelo Bomtempo, de 57, bioquímico e técnico mecânico industrial, respectivamente. "Nós sempre gostamos de ‘construir’ espingardas de pressão, consertar bicicletas, e acho que isso já era um indício que tínhamos aptidão para esse tipo de negócio. O nosso foco é sempre buscar melhorar o que fazemos", ressalta Marco Antonio, que é responsável pela direção comercial da empresa (seu irmão é diretor industrial). O faturamento anual é estimado em R$ 60 milhões, com lucro líquido que varia de 5% a 6%.
Segundo ele, transferir a empresa para um grande centro nunca fez parte dos planos de negócio. "Não vemos vantagem nisso. Além da infraestrutura que já temos aqui, outro benefício é o custo menor da mão de obra e a possibilidade de treiná-la dentro dos nossos padrões rigorosos de qualidade. Isso é fundamental", destaca o diretor comercial, fazendo referência à escola de formação que a empresa mantém há 20 anos. A maioria dos alunos é absorvida pela empresa, que também tem um programa de contratação de estagiários.
Otimistas, os irmãos Bomtempo se preparam para em um ano ampliar o chão de fábrica da unidade da PR-090 em mais 10 mil m² para instalar um novo torno de 22 metros de diâmetro, oito metros de altura e capacidade para 400 toneladas em linha da placa. "É considerado o maior torno das Américas e vai viabilizar outros tipos de projetos", adianta o empresário, almejando voos ainda mais altos.
Fonte: Folha de Londrina, 16 de setembro de 2015.