Ser aprovado em um concurso público é realizar o sonho da estabilidade no trabalho. Para dois mogianos, criadores de um aplicativo de celular que ajuda quem não tem formação em Direto a estudar e conseguir um cargo na área jurídica, quatro dicas podem aumentar as chances do candidato a alcançar a aprovação. Analisar minuciosamente o edital e elaborar um plano de estudo baseado nele são algumas delas.
Com a crise que provocou a recessão da economia e o aumento na taxa de desemprego, que atingiu 8,3% no segundo trimestre deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um aumento no número de candidatos aos cargos públicos. Em Minas Gerais, por exemplo, o concurso do Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região (TRT-MG) bateu recorde de 134.270 candidatos inscritos no concurso público. “Há muitos concursos abertos em tribunais e outros órgãos do poder judiciário, por exemplo, com nível médio, inclusive, mas que as pessoas não conseguem ser aprovadas porque não possuem conhecimento em Direito, que é o que pesa mais na prova. Com um número cada vez maior de candidatos, a possibilidade de aprovação diminui. Por isso, é preciso direcionar os estudos para o conhecimento específico que o cargo pede”, explicou Gustavo Nogueira de Sá, de 29 anos, servidor do Tribunal Regional do Trabalho e um dos idealizadores do aplicativo Peso 2 Concursos.
A primeira dica é analisar minuciosamente o edital do concurso e separar para o estudo apenas o material que pode cair na prova, tópico por tópico. “Com essa análise o candidato ganha muito tempo para repetir o estudo do edital por diversas vezes, pois não perde seu tempo vendo conteúdo que não vai cair na prova do concurso. Separar esse material para o seu estudo e repetir a sua leitura o máximo possível é essencial para tirar uma boa nota’, disse.
Também é muito importante que o candidato não fique limitado a apenas assistir aulas, segundo os mogianos. “A prova do concurso é escrita e a melhor forma de absorver todo conteúdo é lendo muitas vezes o que o edital pede. A prática da leitura permite ao candidato um raciocínio mais rápido na prova, além de facilitar muito no entendimento da linguagem utilizada. Isso inclusive vai ajudar o candidato na hora de fazer a redação do concurso com uma linguagem mais próxima daquela que será o padrão da banca do concurso”.
A terceira dica é sobre o treino com provas anteriores. “Fazendo essas questões o candidato entende qual é o padrão utilizado pela banca do concurso. Por exemplo, fazendo isso o candidato pode saber se na prova eles pedem muita “lei seca” ou se eles se aprofundam nas matérias de Direito. Conhecer a banca é essencial para direcionar seus estudos e ampliar suas chances”.
Por último, a dica é aproveite qualquer tempo livre: “Entendo que é essencial o candidato saber utilizar qualquer tempo vago, que é tempo de estudar e correr atrás de seu sonho. Eu sempre trabalhei e estudei ao mesmo tempo, e sempre carregava comigo pra qualquer lugar meu celular ou tablet com meus arquivos de estudo separados conforme o edital, e em qualquer brecha no meu trabalho ou na faculdade estudava. Na fila do banco, no trem, no ônibus, em qualquer hora e lugar eu estudava. Esse hábito com certeza me permitiu obter sempre notas boas nas provas’, disse Gustavo.
Aplicativo
Intitulado "Peso 2 Concursos", o aplicativo criado em 2014 está disponível para dispositivo Android e IOS e tem as leis e artigos exigidos em editais de concursos públicos na área de Direito. O material vem acompanhado de comentários para facilitar a compreensão. O aplicativo também informa quais concursos públicos estão abertos em todo o País. Todos os processos seletivos exigem apenas o ensino médio.
Em agosto deste ano o aplicativo passou por reformulação e ganhou novas ferramentas como a possibilidade de acessar o conteúdo de estudos offline, destacar trechos e acessar questões comentadas. Há ainda uma versão premium, que é paga, onde o usuário tem acesso a ferramentas e conteúdo diferenciado. "A ideia é permanecer gratuito para democratizar o acesso", defendeu Gustavo.
O aplicativo foi criado por ele, em parceria com o amigo, Alberto Fernandes Filho, que também é concursado e trabalha no Tribunal de Justiça de São Paulo.
Criação
Os amigos fizeram escola juntos em Mogi das Cruzes e se formaram em Direito estudando em universidades diferentes da cidade. Eles se reencontraram no início de 2014. “Tivemos a ideia há seis meses pensando em ajudar quem tem o sonho da estabilidade. Como trabalhamos em São Paulo, acabamos nos encontrando no metrô no começo deste ano. Conversamos e daí para frente resolvemos criar o aplicativo”, conta Alberto, que aos 28 anos trabalha como assistente jurídico no Tribunal de Justiça de São Paulo. Parte da inspiração veio da experiência vivida pela esposa de Gustavo. “A esposa do Gustavo é formada em administração e ficou desempregada por um tempo. Ela resolveu prestar concurso, o Gustavo separou o material que ele tinha e passou para a esposa”, conta Alberto. “Eu ajudei ela a estudar e ela acabou passando no concurso no TRT de Campinas e no TRT de São Paulo para técnico judiciário.”
Material 'mastigado'
Alberto conta que o investimento para criar o "Peso 2 Concursos" foi baixo. “Nós estudamos para fazer a programação e criamos o logo. Nosso custo é praticamente apenas o aluguel do servidor. Os usuários nos pedem para fazer exercícios, mas para isso teríamos que ter uma plataforma mais elaborada e servidores mais potentes”, explica.
Gustavo é atualmente analista judiciário do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. “A primeira impressão que eles têm é que a área jurídica é a matéria mais pesada, porque vale mais pontos e tem mais perguntas. A intenção é colocar a linguagem mais simples e entregar o mais mastigado possível para a pessoa que não é da área de Direito”, explica.
Para ele, os dispositivos móveis trazem várias facilidades. “Desde que eu tenho smartphone eu estudo por ele. Tenho um aplicativo que tem todas as leis, mas está de forma desorganizada e quem não é formado teria muita dificuldade de encontrar o que precisa. Pelo aplicativo que criamos a pessoa pode estudar em qualquer lugar, inclusive no transporte público, como eu faço. Outro fator é que muita gente quer, mas não tem tempo e condições de arcar com um cursinho para prestar o concurso”, conta.
Gustavo acredita que a internet é uma aliada preciosa para quem tem o sonho de passar em concurso. “Hoje tem tanto conteúdo disponível na internet que se a pessoa tiver força de vontade ela consegue ir atrás”, conclui.
Fonte: G1, 21 de setembro de 2015.