As dúvidas sobre a aprovação de medidas fiscais necessárias para evitar que o Brasil tenha sua nota de crédito cortada por outras agências internacionais de classificação de risco e a preocupação com a crise global fizeram o dólar romper ontem a barreira dos R$ 4 e atingir o maior valor dos últimos 13 anos. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou com valorização de 1,58% em R$ 4,054 na venda. Já o dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançou 1,80% e fechou em R$ 4,054. Na máxima do dia de ontem, o dólar à vista chegou a atingir R$ 4,063 e o dólar comercial R$ 4,068.
Para o economista chefe da Austin Rating, Alex Agostini, os principais motivos que têm levado à valorização do dólar são a dificuldade do governo de aprovar o pacote de medidas fiscais, principalmente o aumento da CPMF; a preocupação com o possível aumento de juros nos Estados Unidos ainda neste ano, que traria saída de capitais do Brasil; o risco da perda do grau de investimento do Brasil; o cenário econômico debilitado e o ambiente político ruim.
O coordenador do curso de Ciências Econômicas da Faculdade Mackenzie Rio, Marcelo Anache, explicou que qualquer conturbação que deixe os investidores com insegurança, faz acontecer uma retirada de recursos do Brasil. Segundo ele, o mercado está preocupado com a conturbação política em relação ao deficit público. Ele disse que tem influenciado na alta da moeda americana a discussão do governo de como equacionar a perda de arrecadação fiscal, além dos problemas da retração da economia e da inflação elevada. Anache lembrou que o governo está sem base no Congresso para aprovar as medidas fiscais, o que deixa o mercado nervoso.
O professor da FAE Business School, Gilmar Mendes Lourenço, reforçou que a alta do dólar era algo já esperado em função da dificuldade do governo de colocar o orçamento de 2016 em ordem. Além disso, há a ameaça da perda do grau de investimento do País, por outras agências, como a Fitch e a Moody’s. No início do mês a Standard & Poor’s retirou o selo de bom pagador do Brasil. Além disso, há a possibilidade de o Congresso derrubar vetos da presidente Dilma Rousseff a medidas que preveem o aumento nos gastos públicos.
Os três especialistas acreditam em tendência de alta para moeda norte-americana nos próximos meses. "A tendência é de alta porque não se enxerga no horizonte fatores que possam reverter isso", disse Agostini. "Como continua a conturbação política, o dólar não deve ceder", prevê Anache. Lourenço disse que havia a necessidade de valorização do dólar para dar competitividade às exportações. "Não acredito que haja espaço no Brasil para o dólar funcionar abaixo de R$ 4,00. Isso vai devolver competitividade para a economia brasileira em médio e longo prazo", prevê. Ele acredita que a alta pode ser positiva para setores industriais que perderam competitividade fora do país.
Entre as principais consequências com a alta do dólar estão o aumento dos importados e dos produtos de tecnologia de ponta que são trazidos para o Brasil, o impacto na inflação, o aumento do endividamento das empresas com compromissos em dólar e a elevação dos custos das viagens internacionais, segundo Agostini. A indústria também acaba sofrendo para fazer a compra de equipamentos importados, o que prejudica a inovação, de acordo com Anache. Ele acredita que também possa trazer reflexos para a inflação.
Por outro lado, Lourenço avalia que duvida que o aumento do dólar traga impactos para a inflação já que o país está em recessão econômica. "Com a economia crescendo menos, a influência do dólar na inflação é menor", disse.
Os três especialistas são unânimes em não recomendar a compra da moeda americana neste momento. "Não é hora de comprar dólar. É melhor aplicar em títulos do Tesouro Direto", disse Lourenço. A compra de dólar só é recomendada para quem vai viajar ao exterior e, mesmo assim, em etapas, segundo Agostini. "Comprar dólar como investimento é um risco muito grande", disse ele.
Fonte: Folha de Londrina, 23 de setembro de 2015.