A taxa média de juros cobrados em transações com o cartão de crédito rotativo atingiram 403,5% ao ano em agosto, alta de 8,8 pontos percentuais em relação a julho. Dados sobre operações financeiras divulgadas ontem pelo Banco Central (BC) apontam ainda o maior índice entre todos os tipos de contratações para pessoas físicas da série histórica iniciada em 2011, com 61,2% ao ano, ou 1,4 p.p. a mais do que no mês anterior. A explicação, dizem analistas, é o maior risco de inadimplência pelo desaquecimento econômico.
Para o outro vilão dos orçamentos familiares, o cheque especial, os juros foram de 246,9% para 253,2% ao ano, no mesmo comparativo. No cartão de crédito parcelado, que é quando o comprador paga a mensalidade cheia e não apenas a mínima, a taxa foi de 120,9% para 129,8%. Por outro lado, o crédito renegociado teve redução no custo, ao passar de 45,8% para 44,9%, o que reforça a importância de devedores de buscarem os credores para discutir um parcelamento.
Julho foi o mês da última elevação promovida pelo BC da taxa básica de juros, a Selic, de 13,75% para 14,25%, o que explica parte da pressão sobre os índices em operações para o consumidor. O professor e consultor de finanças pessoais e empresariais Charles Vezozzo afirma que a medida usada pelo governo para estimular a poupança, reduzir o consumo e diminuir a inflação tem função diferente em cenário de crise. "As pessoas estão pagando por esse instrumento e para que os juros atraiam capital de fora do País", conta.
A outra causa, afirma a professora que coordena o projeto Saúde Financeira da Família na Unifil, Maria Eduvirges Marandola, é o cenário nacional ruim, com inadimplência em alta e desemprego crescente. "Os agente financeiros preferem se precaver e elevam o custo do crédito para o consumidor e para o empresário", diz.
Para pessoas jurídicas, a taxa média foi de 16,4% ao ano em julho para 20,3% em agosto. Nas contratações com recursos livres, chegou a 28,5% e nas direcionadas a empresas, a 10,6%. "O desafio para quem produz é grande porque a remuneração é muito baixa para cobrir os financiamentos e o que resta é diminuir os investimentos", explica Maria Eduvirges.
Renegociação
A orientação para o consumidor é que fuja das taxas do cartão de crédito rotativo e do cheque especial. "Existem operações em que os juros são menores e quem tem dívida no cartão de crédito deve renegociar o valor, em operação e número de parcelas que caibam no bolso", sugere Vezozzo. Ele lembra que é preciso buscar soluções até o fim do ano para entrar em 2016 preparado para custos com impostos e materiais escolares dos filhos, por exemplo.
A professora da Unifil completa que todos precisam aprender a rediscutir dívidas com os credores, para evitar juros sobre juros, mas que é preciso que a prática não se torne comum. "Também é preciso fazer cortes, porque o nível de consumo não ficará o mesmo nesse cenário e as pessoas terão de se adaptar para sobreviver."
Spread aumenta
O spread bancário, que é a diferença entre o rendimento de aplicações financeiras e o cobrado nas contratações de crédito, foi de 31,5 pontos porcentuais em julho para 31,9 pontos em agosto, conforme o BC. Para a pessoa física no crédito livre, chegou a 47,4 pontos porcentual e, para a jurídica, manteve-se em 15,5 pontos. "As financeiras ficam em situação privilegiada na crise, porque as pessoas precisam de dinheiro e eles ganham poder de barganha", explica a professora da Unifil.
Fonte: Folha de Londrina, 24 de setembro de 2015.