A falta de qualificação é o principal entrave para contratação de profissionais na região deBebedouro (SP). A constatação é do Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), órgão da Secretaria Estadual de Relações do Trabalho, apontando que apenas 15,2% das vagas de emprego oferecidas este ano na cidade foram preenchidas.
Entre janeiro e setembro, as empresas de Bebedouro disponibilizaram 671 oportunidades de trabalho. O PAT encaminhou 5.534 pessoas para entrevistas, mas apenas 102 desse total foram contratadas. A principal justificativa para dispensa dos candidatos foi falta formação técnica adequada para as vagas.
“Muitas vezes, nem é qualificação extrema, mas pelo menos técnica, exigida a um operador de máquinas, de empilhadeira, eletricista. Por isso, nós falamos que o país vive um apagão de mão de obra. Existe desemprego, existe vaga disponível e muita gente não se recoloca no mercado por falta de qualificação”, diz o sociólogo Lucas Seren, secretário de Desenvolvimento.
Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontam que até agosto o setor de agropecuária foi o que mais contratou na cidade, com 3,2 mil vagas abertas, seguido de serviços, com 911 novos postos de trabalho. De janeiro a agosto, Bebedouro é a terceira que mais gerou empregos em São Paulo, com saldo de 3,5 mil contratações.
O secretário explica que os dados demonstram a importância da citricultura e da produção de cana-de-açúcar para a economia da cidade. Indústrias de suco de laranja e usinas de açúcar e etanol são as que mais contratam em Bebedouro, e também encontram dificuldade em encontrar funcionários qualificados.
“Os profissionais ainda têm muita resistência para entender que o mercado é cada vez mais exigente. Mesmo a gente oferecendo cursos gratuitos e, às vezes, até com bolsas de estudo, ainda encontramos dificuldade de formar turmas. Ainda existem profissionais que pensam: ‘eu trabalhei até ontem com esse currículo, por que eu tenho que estudar?’”, afirma Seren.
Formação x comportamento
O consultor de recursos humanos Dimas Facioli destaca ainda que, apesar de muitos profissionais possuírem graduação, cursos de extensão, de idiomas, entre outros, isso não significa qualificação para o mercado de trabalho. Isso porque, segundo ele, o ensino nas faculdades, por exemplo, é cada vez mais precário.
“Elas estão formando volume e não qualidade. Às vezes, o professor não está preparado, o conteúdo é defasado, então a formação é deficiente. Mesmo no ensino básico, a gente sabe que não pode repetir o aluno, então não pode ensinar com a intensidade que deveria”, afirma Facioli.
Ainda de acordo com o consultor, a escolha do candidato para uma vaga de trabalho depende muito mais do comportamento que ele apresenta durante as etapas de seleção, do que simplesmente da formação técnica exigida para o cargo.
“Os estudos demonstram que 60% de adequação do profissional são relativos à questão comportamental: iniciativa, vontade de aprender, abertura para mudanças, etc. Isso tem um peso bastante significativo. Às vezes, você tem uma pessoa muito boa tecnicamente, mas o que vai diferenciar é o comportamento dela”, conclui.
Fonte: G1, 05 de outubro de 2015.