A greve nacional dos bancários entrou hoje (14) no nono dia sem perspectivas de retomada de negociações. Segundo o comando nacional da categoria, o diálogo com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) está aberto, mas os representantes patronais estão "avisados" que não será aceita nova proposta "desonrosa", como diz, em entrevista, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Roberto von der Osten, o Betão.

O dirigente se refere às condições da primeira e única oferta feita até o momento, de reajuste de 5,5% no salários, com pagamento de um abono único de R$ 2.500. Segundo Betão, mais de metade dos locais de trabalho em todo o país aderiram à paralisação.

Em São Paulo, Osasco e região, agências e grandes departamentos dos principais bancos estão parados. “Estamos parando setores estratégicos, centenas de agências em segmentos importantes, inclusive alta renda. Nossa greve é justa”, diz a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira.

A categoria só volta a fazer assembleias na próxima segunda-feira. Antes, na sexta-feira (16), será realizada manifestação com a participação de bancários e petroleiros, que estão em campanha salarial, com data-base em 1º de setembro. A defesa dos empregos, dos investimentos em produção, por melhores condições de trabalho e contra o uso abusivo de mão de obra terceirizada indevida unem os segmentos. Também participarão do protesto trabalhadores do setor de alimentação, movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA) e dos Sem Terra (MST).

O presidente da Contraf-CUT afirma que mesmo depois do fim de semana prolongado a greve se expandiu. E acredita que a situação prosseguirá assim nos próximos dias. "Construímos uma campanha de unidade nacional, só na área de nossa base de representação (do Comando Nacional) tem 134 sindicatos e dez federações. E os trabalhadores aderiram em massa. Eu acho que trabalhador não vai se dispor a uma situação tão humilhante, tão indigna, de aceitar no lugar de um reajuste correto de salário um abono."

 

Como ficou a adesão à greve depois de um fim de semana prolongado, com feriado?

Estamos no nono dia de greve. E abrimos o dia seguinte a um feriado num patamar de adesão superior ao da semana passada.

E por que a greve está crescendo?

Porque a proposta  dos banqueiros reduz os salários e isso causou uma indignação muito grande. Porque o setor que mais ganha dinheiro, um lucro de R$ 36,3 bilhões dos cinco maiores em um semestre, não tem, com um lucro desse tamanho, oferecer uma proposta com metade da inflação. Isso é uma obviedade. Os bancos terão de perceber isso.

Estamos dizendo aos trabalhadores:  nós queremos retomar as negociações, mas isso só será possível se for com proposta que valorize os trabalhadores, que tenha responsabilidade social e que seja coerente com o desempenho dos bancos.

Eles estão sendo provocados a conversar?

O Comando Nacional está reunido hoje em São Paulo para fazer uma avaliação do nosso movimento. E já deixamos claro para a Fenaban: nós estamos permanentemente à disposição e retomar a negociação. Agora, não podem chamar para fazer proposta  de provocação, proposta indecente.

Você não teme que os bancos, em vez de melhorar no reajuste, apresentar proposta de abono maior para dividir a categoria e aumentar a ansiedade ante a possibilidade de uma greve prolongada e desgastante?

Nada impede que os bancos façam isso. Mas quem é dono da greve é o trabalhador. Os sindicatos só organizam. Construímos uma campanha de unidade nacional, só na área de nossa representação tem 134 sindicatos e dez federação. Organizamos um calendário nacional único, fizemos uma campanha única, e os trabalhadores aderiram em massa. Nós temos mais de metade dos locais de trabalho parada hoje. Eu acho que trabalhador vai se dispor a uma situação tão humilhante, tão indigna, de aceitar no lugar de um reajuste correto de salário um abono - é um prejuízo que incide sobre a carreira toda. Você não tendo reajuste, gastou o abono acabou. Ano que vem você vai ter que lutar pela inflação do ano que vem e pela inflação passada. O trabalhador sabe disso. Eu tenho certeza que ele não aceitará mais uma proposta indecente.

Então o Comando então deve desencorajar a Fenaban a apresentar uma proposta que não corrija o índice de reajuste?

Já desencorajou. Se vierem com proposta rebaixada e desonrosa, não percam tempo. Não vamos nem levar para a assembleia.

Fonte: Rede Brasil Atual, 15 de outubro de 2015.