Os cidadãos brasileiros estão, proporcionalmente, gastando mais em saúde do que o Estado. De acordo com a ‘Conta-Satélite de Saúde’, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto os três níveis de governo (federal, estadual e municipal) tiveram um dispêndio de R$ 946,21 por pessoa com o setor em 2013, as famílias arcaram com R$ 1.162,14 per capita, ou seja, 22,82% a mais. A maior despesa da população foi com serviços privados, incluindo consultas, planos e exames. Esse gasto subiu de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 (R$ 97,8 bilhões) para 2,7% três anos depois (R$ 141,3 bilhões). 
No mesmo período analisado, o consumo de medicamentos passou de 1,6% (R$ 62 bilhões) a 1,5% do PIB (R$ 78,5 bilhões). Já em relação ao Executivo, a área prioritária continua sendo a de saúde pública, cujo montante variou de 2,7% do PIB (R$ 106 bilhões) para 2,8% (R$ 149,9 bilhões). O poder público também empregou 0,6% do PIB (R$ 31,8 bilhões) com serviços particulares e 0,2% (R$ 8,4 bilhões) em remédios para distribuição gratuita. Ou seja, se não fossem os medicamentos, teria investido mais do que a população. 
Para o corretor de imóveis Carlos Ribas, de Curitiba, os dados são "um absurdo". Apesar de dispor de um convênio sem descontos, por conta da empresa da esposa, que é bancária, ele critica o baixo investimento governamental. "Sabemos que quando se tem criança, é ainda pior. Você pega seu filho, sai de casa de madrugada e que horas vai se atendido? Temos que tirar dinheiro do bolso, pagar um plano, para ter mais qualidade. Não é essa agilidade toda, mas pelo menos o atendimento acontece", comentou. 
A assistente financeira Sônia de Fátima Silva, de 55 anos, que gasta em torno de R$ 500 por mês com saúde, sendo R$ 300 apenas com o plano de saúde, tem a mesma avaliação. "Isso porque é coparticipação. Dependendo do que eu uso, vem um acréscimo. Consulto o reumatologista a cada três meses, o cardiologista a cada quatro e agora a nutricionista, que é particular". Ela também desembolsa em torno de R$ 80 em remédios para fibromialgia e de combate ao colesterol. "Acho pesadinho. Só me dou ao luxo porque depender do SUS (Sistema Único de Saúde) não dá". Outro problema, segundo Sônia, é que alguns médicos discriminam pacientes de convênio, demorando mais a marcar consultas. "Se fosse descontado e de boa qualidade, a gente não reclamaria". 

OUTROS NÚMEROS
Considerando os valores brutos, R$ 424 bilhões foram destinados ao consumo final de bens e serviços de saúde, o que corresponde a 8% do PIB. Desse total, R$ 190 bilhões (3,6% do PIB) partiram do Estado e R$ 234 bilhões (4,4% do PIB) dos cidadãos ou de instituições sem fins lucrativos. A pesquisa mostra ainda que 18,6% das preparações farmacêuticas (como gazes, curativos, iodo e água oxigenada) disponíveis no País em 2013 foram exportadas. Na outra ponta, 74% dos farmoquímicos (matéria-prima para produção dos remédios), 37,1% dos outros materiais médicos e odontológicos e 24,5% dos medicamentos para uso humano vieram do exterior. 
O dado positivo é que o número de empregos na saúde subiu 17,31% - de 5,2 milhões em 2010 para 6,1 milhões em 2013. Com isso, as atividades da área ganharam participação no total de vagas da economia. Nos três anos analisados, subiram três pontos percentuais - de 5,3%, para 5,9%. É importante frisar, contudo, que o mesmo indivíduo pode trabalhar em dois ou três lugares diferentes. A maior parte dos cargos se concentra nos setores privado e público. Ambos também apresentaram maior crescimento na quantidade de postos: 17,2% e 17,7%, respectivamente. Em terceiro lugar ficou o comércio de produtos farmacêuticos, perfumaria e médico/odontológicos, com 13,8% de aumento.

Fonte: Folha de Londrina, 11 de dezembro de 2015.