Pela primeira vez desde 1990, a Renda Nacional Bruta (RNB) per capita do Brasil caiu no ano passado. A RNB representa a soma de toda renda nacional dividida pelo número de habitantes e é um das dimensões que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). As outras dimensões são expectativa de vida e a combinação de dois indicadores de educação: expectativa de anos de estudo e média de anos de estudo de um adulto (mais de 25 anos). As informações fazem parte do Relatório de Desenvolvimento Humano 2015, divulgado ontem, com dados referentes ao ano anterior.
Apesar da queda da RNB per capita de US$ 15.288 em 2013 para US$ 15.175, no ano passado, o IDH do Brasil subiu de 0,752 para 0,755, puxado pelas outras dimensões. A expectativa de vida dos brasileiros foi de 74,2 anos para para 74,5 anos. E a média de anos de estudo passou de 7,4 para 7,7 anos.
Mesmo tendo avançado nos últimos anos e de ser considerado um país de alto desenvolvimento humano, o Brasil está longe de ser um destaque no ranking dos melhores IDHs. Dos 188 analisados, o País ocupa a 75ª posição – tendo perdido para a Sri Lanka a 74ª que ocupou no relatório de 2014. O Pnud divide os países como de desenvolvimento humano baixo (até 0,55), médio (de 0,55 a 0,69), alto (de 0,70 a 0,79) e muito alto (de 0,80 para cima).
Quando comparado com os demais Brics, a situação do Brasil é mais confortável. O IDH da China é 0,727 (90ª posição internacional), o da África do Sul, 0,666 (116ª) e da Índia, 0,609 (130ª). Mas, na América Latina, há países com IDH bem mais altos. A Argentina (0,836) e o Chile (0,832) estão na faixa das nações de desenvolvimento muito alto. Eles ocupam a 40ª e a 42ª posições, respectivamente. Antes do Brasil, ainda tem o Uruguai, com IDH 0,793 (52° lugar), Cuba (0,769 e 67°) e a Venezuela (0,762 e 71°).
Renda
A renda nacional bruta do Brasil, US$ 15.175, é a 74ª do ranking. O primeiro da lista neste quesito, o Qatar, tem uma RNB mais de oito vezes maior (US$ 123 mil). A dos Estados Unidos (US 52,9 mil) é 3,5 vezes mais alta. E a da Argentina, 45% maior.
Economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Demian Castro considera que, apesar de ter feito uma "indiscutível inclusão social" nos últimos anos, o Brasil não tratou de criar empregos de qualidade, o "único modo" de manter renda bruta em alta. Se o País tivesse tomado essa providência, na opinião do economista, não veria a renda cair na primeira crise. Para ele, a posição do Brasil no ranking internacional é "vergonhosa". "Uma casinha a mais ou a menos (74ª ou 75ª posição) não nos tira da vergonha", critica.
De acordo com Castro, apesar de ter se afundado na crise há mais tempo que o Brasil, a Argentina "formou há muito mais tempo uma classe média mais extensa". "Fez um processo de inclusão social um pouco mais forte", argumenta o professor, justificando a dianteira do país vizinho no ranking.
Para ele, o Brasil precisa diversificar sua economia, investindo em tecnologia e indústria. "O agronegócio é muito importante para o Brasil, mas não podemos nos dar ao luxo de achar que vai salvar o País", afirma.
Inflação
Também economista, e professor da Faccar de Rolândia, Márcio Massaro diz que a queda na renda bruta brasileira apontada pelo IDH está relacionada diretamente à inflação, que foi de 6,41% no ano passado, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "A inflação corrói a renda do brasileiro", justifica.
Para ele, apesar de viver o mesmo problema, a Argentina investiu proporcionalmente mais em máquinas e equipamentos, o que a teria levado a uma maior produtividade do trabalhador, elevando sua renda. "Devido à tecnologia de que dispõe, o argentino produz mais que o brasileiro. Então a renda dele é maior."
Fonte: Folha de Londrina, 15 de dezembro de 2015.