Como acontece em toda recessão econômica como a brasileira os mais pobres são os que mais sofrem. Não é só a inflação, que corrói a renda. Em 2015, o desemprego foi mais duro com os trabalhadores com baixa escolaridade, os trabalhadores que ganham menos.

Sérgio, desempregado, ocupa o tempo distribuindo currículos na cidade de Rondonópolis (MT). O rapaz de 21 anos tem apenas o Ensino Médio completo e foi demitido há dois meses de uma firma de impermeabilização. Até agora não conseguiu outro trabalho.

"A gente vai procurar emprego nas empresas, muitos dão justificativa por causa da crise, outras não estão contratando, outras empresas estão fechando as portas", diz Sérgio Felipe de Souza Dias, que está desempregado.

Sérgio está no grupo de mais de 1,5 milhão de pessoas que perderam emprego no ano passado e a grande maioria não chegou à universidade. As demissões de profissionais com curso superior completo ou incompleto representam apenas 6,4% do total.

Para o economista José Márcio Camargo, o cenário mostra que a mão de obra menos qualificada é substituída mais facilmente. 

"Os trabalhadores mais qualificados em geral são trabalhadores que a empresa investe mais de tal forma que o custo de demitir um trabalhador mais qualificado em geral é muito maior do que o custo de demitir um trabalhador pouco qualificado porque você tem que retreinar o trabalhador enquanto que, para o pouco qualificado, o retreinamento é muito barato", diz José Márcio Camargo, economista da PUC-Rio.

Os números do mercado de trabalho podem piorar ainda mais. Em 2015 a indústria e a construção civil foram os setores que mais dispensaram funcionários. No fim do ano aumentou a demissão no comércio e no setor de serviços e são eles os maiores empregadores da economia brasileira.

"70% dos empregos estão no setor de serviços e, consequentemente, na hora em que esses setores começarem a demitir de verdade devido à queda de demanda, nós vamos ter um aumento de demissão muito forte. Então o cenário não é muito positivo para 2016", aponta Camargo.

A indústria demitiu em todos os meses de 2015. Não houve exceção no período todo. Preso na armadilha de não ter mais espaço para incentivos fiscais e a necessidade urgente de dar algum impulso na economia, o governo pensa em permitir que o consumidor use a multa do FGTS como garantia para pagar um empréstimo consignado no caso de demissão. É um jeito de tentar incentivar o crédito, recurso muito usado lá atrás.

"É uma discussão que foi proposta por algumas lideranças é você poder usar a sua conta do FGTS também como uma garantia para o crédito consignado. Não é você usar o fgts pra pagar o crédito consignado, é você poder colocar o FGTS como uma garantia se eventualmente aquilo for necessário, é uma proposta que já apareceu por algumas instituições financeiras e a gente está analisando", declara Nelson Barbosa, ministro da Fazenda.

Fonte: Jornal da Globo, 25 de janeiro de 2016.