Uma equipe de pesquisadores internacionais fez uma projeção de como o vírus da zika deve se espalhar para as Américas, a Europa e a Ásia a partir do Brasil. O mapa foi publicado na revista "The Lancet". Nessa segundafeira (1º), a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência em saúde pública por causa de um surto microcefalia, má formação do cérebro cuja ligação com o vírus zika é fortemente suspeita. Eles identificaram o destino final de 9,9 milhões de viajantes de voos internacionais que saíram de aeroportos no Brasil entre setembro de 2014 e agosto de 2015. Foram considerados terminais localizados num raio de até 50 km de áreas com transmissão de zika. A maioria desses viajantes (65%) seguiu para as Américas, 27% para a Europa e 5% para a Ásia. Em volume de passageiros, os Estados Unidos lideram (2,7 milhões), seguidos da Argentina (1,3 milhão). Na Europa, a Itália é o principal destino, com 420 mil passageiros, seguida por Portugal (411 mil). Na Ásia e na África, China (84 mil) e Angola (82 mil) receberam, respectivamente, o maior volume de passageiros saídos de aeroportos brasileiros.
A equipe mapeou também a "geografia" dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, capazes de transmitir o zika, e construiu um modelo das condições climáticas necessárias para ele se espalhar. Eles estimam que mais de 60% da população de EUA, Argentina e Itália vive em áreas propícias à transmissão sazonal (só no verão, por exemplo) do vírus zika. Já México, Colômbia e parte dos EUA teriam áreas propícias para a transmissão o ano todo. Para Isaac Bogoch, especialista em doenças tropicais infecciosas da Universidade de Toronto e que participou do estudo sobre as chances de disseminação do zika, as pessoas não devem deixar de ir ao Brasil. "Viaje ao Brasil, aproveite a Olimpíada e se divirta. Quem viaja ao Brasil deve tomar precauções para não ser picado." Ele diz que o grupo não fez um cálculo do risco de disseminação na competição. "Dependerá de qual será o nível de infecção no Brasil durante os jogos e se haverá uma redução significativa das viagens ao país por causa do surto." Para Bogoch, é preciso concentrar esforços para evitar uma pandemia. "Precisamos melhorar a coordenação e a comunicação entre governos e entre as agências de saúde pública. Isso envolve monitoramento, relatórios, esforço de controle de mosquitos, disponibilidade de testes de diagnósticos para grávidas e mais estudos sobre o vírus e sua dinâmica de transmissão." Na sua opinião, é difícil saber qual o atual estágio do surto no Brasil, pois a maioria das pessoas infectadas não tem sintomas. Em um esforço para evitar a proliferação do vírus, o governo da Papua Nova Guiné anunciou que irá monitorar viajantes que chegam de áreas onde há circulação do zika.
Fonte: Folha S.Paulo, 02 de fevereiro de 2016.