As negociações salariais de janeiro deste ano ficaram no limiar da inflação no Paraná, enquanto a média nacional ficou 5,5 pontos percentuais abaixo dos 11,3% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Conforme levantamento divulgado ontem pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os percentuais foram superiores ao do mesmo mês do ano passado, mas, com a alta da inflação, houve maior dificuldade em se obter aumentos reais, que elevam a renda do trabalhador.
Usado como base para a maioria dos reajustes coletivos, o INPC de janeiro de 2015 foi de 6,2%, com média de reajuste salarial de 7,7% no Paraná e de 7,8% no Brasil, segundo a Fipe. Assim, houve aumento médio real estadual de 1,5 ponto percentual (p.p.), ou 24%, e nacional de 1,6 p.p., ou 25%.
Com o índice de inflação em 11,3% em doze meses até o mês passado, os trabalhadores paranaenses obtiveram reposição média de 11,1%, e os brasileiros, 5,8%, que indicam perda salarial. No Estado, a diferença foi negativa em 0,2 p.p., ou 0,8%, e, no País, de 5,5 p.p., ou de 48% em relação à variação da inflação, de acordo com a pesquisa.
O economista Fabiano Camargo da Silva, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), diz que há ressalvas em relação à metodologia da pesquisa. "A Fipe pega todas as negociações de todos os lugares e faz a média, sem considerar se há negociações com maior representatividade do que outras em relação ao número de trabalhadores, o que pode mascarar a realidade", explica. Como exemplo, cita que um reajuste em um grande centro metalúrgico como Curitiba, com milhares de trabalhadores, pode indicar uma negociação e ter o mesmo peso de uma pequena cidade do interior, com mão de obra de algumas dezenas. "Não há o mesmo peso para a economia", completa.
Contudo, Silva afirma que tem observado maior dificuldade para os trabalhadores na busca por melhores salários, no levantamento semestral divulgado pelo Dieese. "Pela conjuntura econômica, com a alta do desemprego e da inflação, houve redução no número de negociações com ganho real e no tamanho do índice, mas mesmo assim a maioria tem obtido algum ganho", conta o economista. Sem os dados fechados do segundo semestre de 2015, ele cita que 68% das categorias paranaenses obtiveram avanços e 16,9% contaram com o INPC nos primeiros seis meses do ano passado. "Estamos no pico da inflação, que deve perder força no segundo semestre e pode facilitar para algumas categorias", completa.
VAREJO
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Londrina (Sincoval), Roberto Martins, será preciso bom senso nas negociações de ambas as partes neste ano. Ele diz que pretende antecipar o diálogo com a entidade que representa a maior categoria de trabalhadores da cidade para a segunda quinzena de março, de forma a acertar um índice o quanto antes. "Se temos toda a economia em queda, não adianta esperar por grandes reajustes, mesmo porque tivemos ganho real nos últimos oito anos", diz. "Tecnicamente, ninguém é obrigado e repor a inflação, mas fazemos isso mais por uma questão moral e neste ano não deve passar disso", completa.
O presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio de Londrina (Sindecolon), José Lima do Nascimento, afirma que entende que o País passa por um momento difícil, mas que não se pode fazer com que o trabalhador pague a conta. "Em todos os anos temos dificuldade de se conseguir aumento real e não podemos deixar de tentar, porque é a obrigação do sindicato", lembra. "Os gêneros de primeira necessidade aumentaram bem mais do que o índice da inflação e é preciso entender que o reajuste salarial se reverte em maior poder de compra para o próprio varejo da região", completa.
Fonte: Folha de Londrina, 24 de fevereiro de 2016.