Dezenas de milhares de pessoas participaram ontem na França de um dia de protestos convocados por sindicalistas e estudantes contra a reforma na lei trabalhista no país, impulsionada pelo governo. O ato é uma resposta à intenção do presidente François Hollande de permitir às empresas mudar a jornada de trabalho de seus funcionários além das 35 horas semanais determinadas por lei sem remuneração adicional. Pelo novo modelo, os trabalhadores poderão trabalhar até 12 horas diárias ou 48 horas semanais sem seguir os pactos com os sindicatos. Em troca, os funcionários passarão a receber mais folgas extras. Também fazem parte da reforma medidas para reduzir as regras para demissões, trabalho remoto e noturno. A medida é defendida pelo governo como uma forma de reduzir a taxa de desemprego na França. 
As manifestações reuniram trabalhadores, desempregados e estudantes, que responderam ao chamado dos sindicatos e do movimento estudantil e protestaram em mais de 200 cidades francesas. Em Paris, o número de manifestantes chegou a 80 mil. O protesto desta quarta coincidiu com a greve dos funcionários das ferrovias suburbanas e de longa distância francesas, que provocou atrasos nos trens em todo o país. 
A reforma trabalhista irritou mais os movimentos sociais especialmente porque foi sugerida pelo Partido Socialista, o mesmo de François Hollande, que há 15 anos havia conseguido aprovar a jornada de trabalho de 35 horas. Em 2008, o antecessor de Hollande, o conservador Nicolas Sarkozy, havia defendido o aumento da jornada, mas não levou a proposta adiante devido à pressão dos sindicatos franceses. 
A ministra do Trabalho, Miriam el-Khomri, defendeu a lei como um avanço e disse que os sindicatos foram ouvidos. O primeiro-ministro, Manuel Valls, afirmou que a proposta não será retirada, embora o diálogo continue. A intenção do governo era enviar a medida ao Parlamento ontem, mas a resistência dos movimentos sindicais e dentro do Partido Socialista atrasaram a tramitação.

Fonte: Folha de Londrina, 10 de março de 2016.