Na primeira turma do Projeto de Ensino Construtores do Saber, estão matriculados 15 trabalhadores, mas a capacidade é para 25. Todos são trabalhadores da obra. Um deles é o mestre de obras Nilton José Ferreira, 61 anos. As dificuldades impostas pela dura rotina do trabalho fizeram com que ele estudasse somente até o 4º ano do Ensino Fundamental. “Perdi muitas oportunidades por causa do pouco estudo”, contou. Agora, com a sala de aula no canteiro de obras, mostrou-se entusiasmado. “Não vou deixar essa oportunidade passar.”
As aulas seguirão os moldes adotados pelo Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja), com oito módulos individuais – Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Inglês e Educação Física. As aulas terão duas horas de duração, das 17h30 às 19h30, às terças, quartas e quintas-feiras. Os alunos só avançam para a disciplina seguinte após concluir aquela que realizam.
“Os certificados de conclusão do curso são reconhecidos pelo Ministério da Educação [MEC]. Na prática, quem estudar aqui [na escola do canteiro de obras] terá o mesmo conteúdo de quem frequentou uma escola regular e terá os mesmos direitos depois”, comentou a pedagoga de Educação de Jovens e Adultos do Sesi em Londrina, Kelly Bernini.
Previsto para dois anos, o curso segue o cronograma da construção do condomínio. “Dessa forma, quando os prédios ficarem prontos, os trabalhadores estarão formados”, revelou o coordenador regional da construtora, Kalel Costa. A demanda pelas aulas foi pequena, a princípio. No entanto, depois da primeira turma, outras poderão ser criadas. “Já temos 12 trabalhadores aptos para cursarem o segundo grau. Vamos ver os detalhes com o Sesi para oferecer essa modalidade no mês que vem.”
A expectativa é que os resultados de Londrina se aproximem dos obtidos nas outras 50 salas de aula espalhadas pela construtora no Brasil. Segundo o coordenador regional, o reflexo da oportunidade já é visível no dia a dia da obra. “Os trabalhadores se sentem valorizados, percebem que são importantes para a empresa. Com isso, a dedicação aumenta e o trabalho melhora”, avaliou.
Se, no trabalho diário, o mestre de obras é responsável por cobrar os colegas, na escola montada dentro da construção todos serão iguais. “Não vou poder puxar a orelha de ninguém, lá dentro o mestre é quem vai dar a aula”, brincou Nilton José Ferreira.
Ceebja interrompeu descentralização de salas de aula
A criação de uma sala de aula fora do ambiente escolar surpreendeu a vice-diretora do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebja) de Londrina, Marlene Aparecida de Lima Lourenço. Segundo ela, a iniciativa, restrita ao Serviço Social da Indústria (Sesi), ocorreu após um acordo com a Secretaria de Estado da Educação. O Ceebja teve projetos parecidos que tiveram de ser interrompidos por dificuldades com alvarás.
“O Corpo de Bombeiros e a Vigilância Sanitária não liberam o funcionamento de nossas salas de aula fora de ambientes estritamente escolares. Chegamos a dar aulas dentro de salões paroquiais, mas, por conta dessa dificuldade na aprovação dos alvarás e das licenças, essa descentralização acabou. Pelo menos para as atividades do Ceebja”, lamentou.
Fonte: Jornal de Londrina, 10 de abril de 2010.