Prontos para encarar os desafios dos novos tempos, especialmente em relação ao mercado de trabalho, muitos brasileiros que chegam à terceira idade têm passado a ocupar um papel importante na sociedade. Eles estão cada vez mais de olho nas oportunidades profissionais e buscando cursos de qualificação. "Todas as vezes que procurei trabalho, uma das primeiras perguntas da entrevista era se eu tinha conhecimento em informática", conta a londrinense Aparecida Antuniasi, de 61 anos. Após perder o emprego como atendente de loja, ela resolveu investir em um curso antes de buscar uma nova vaga. Nas aulas, se empenha em aprender a trabalhar com os sistemas operacionais, além da internet e redes sociais. "Isso vai me ajudar a executar tarefas com mais facilidade e abrir melhores oportunidades de emprego", projeta a aluna do curso Melhor Idade Online, no Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac) em Londrina.
O gestor da unidade, David Simões Bueno de Oliveira, contabiliza hoje sete turmas com cerca de 20 alunos cada, com idade a partir dos 50 anos. "Aqueles que buscam qualificação profissional atuam principalmente nas áreas de segurança, portaria e recepção. O mundo digital está exigindo essa qualificação e eles estão interessados", afirma.
Formado em Administração, José Mojica de Matos também não quis saber de ficar parado após a aposentadoria. Depois de três décadas dedicadas à área de controle de qualidade em uma estatal, resolveu investir em um curso técnico de Segurança do Trabalho no Senai em Londrina. "Eu sabia que ainda tinha muito o que contribuir. Eu queria me sentir útil, mantendo a cabeça trabalhando e os círculos de amizade", aponta. Aos 58 anos, Mojica concluiu o curso e deixou um currículo no Senai. Ele foi chamado para trabalhar e hoje dá aulas na área de Segurança do Trabalho para o curso de nível médio para eletrotécnico. "Nunca deixei de estudar, me qualificar. Fiz cursos de informática e até de matemática básica. Sabemos que há uma discriminação da sociedade e do mercado de trabalho com pessoas de mais idade, mas acho que isso está se perdendo. Quem tem 60 anos hoje tem muito a colaborar, mas tem que estudar, aproveitar as oportunidades", alerta.
De acordo com a orientadora pedagógica dos cursos técnicos do Senai em Londrina, Melyssa Zamboni, homens e mulheres com mais idade estão buscando cada vez mais os cursos técnicos ou de qualificação, focados principalmente na busca de melhores cargos e maiores salários. "A maior parte tem interesse nas áreas de automação industrial, automotiva e segurança do trabalho, pois muitos já têm experiência e também são os setores com mais oportunidades para esse público", acrescenta. Segundo ela, dos cerca de 2.400 alunos da unidade Londrina, distribuídos em cursos de qualificação, superior, técnico, pós-graduação e aprendizagem, 5% são da terceira idade.
PARTICIPAÇÃO
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, entre 2013 e 2014, a participação da terceira idade entre os empregados no País cresceu de 7,5% para 8,2%. Aumento que reflete nos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua trimestral, do IBGE. Compilados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), os números mostram que a população paranaense acima de 60 anos teve um aumento no rendimento médio real habitual. Nessa faixa etária, conforme divulgado pela Agência Estadual de Notícias, a renda mensal passou de R$ 2.277 no terceiro trimestre de 2014 para R$ 2.542 no mesmo período de 2015, representando a maior expansão de renda (entre idosos) do Sul do País.
Um ganho visto pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social como resultado das ações de reinserção da pessoa idosa no mercado de trabalho. Porém, além disso, há a questão do aumento da expectativa de vida, atualmente de 75,2 anos, e o cenário econômico atual, que também tem motivado os idosos a buscar a inserção ou recolocação no mercado.
Fonte: Folha de Londrina, 28 de março de 2016.