O brasileiro está sentindo no bolso os efeitos da crise. A renda do trabalhador encolheu, como mostrou a pesquisa divulgada pelo IBGE. Os preços subiram e as despesas estão maiores que o salário.

O salário está perdendo para inflação, e não é pouco. A renda média do trabalhador caiu 2,4%. Uma péssima notícia, desanimadora para quem é forçado a abrir mão de um padrão de vida que foi sendo conquistado. A inflação derruba renda sim. A gente vê isso no mercado: cada vez comparamos menos com o mesmo dinheiro.

Cenas de um país em crise: vendedor a espera de cliente. “Querendo ou não as cliente somem da loja”, diz a comerciante Maria Aparecida de Araújo.

Conversas de um país em crise: “Vai na padaria com R$ 15 e não consegue comer mais nada. Está um absurdo, as coisas estão caras demais”, diz Geovanir Teixeira.

Consequências de um país em crise: “Minha renda diminuiu pela metade. Eu tinha segunda a sábado de diária e estou tendo três dias só na semana. Diminuiu 50%”, afirma a diarista Magda Silva.

O brasileiro não está só se sentindo mais pobre, nós estamos mais pobres. A renda ficou para trás. O que a gente compara e os serviços subiram mais, do pão ao cabelereiro. A pesquisa do IBGE comprova tudo isso. Entre novembro, dezembro e janeiro desse ano a renda média mensal registrada: R$ 1939, menor que no ano passado, no mesmo trimestre a renda era de R$ 1988. Parece pouco, mas faz diferença.

“Perder o que você conquistou é uma coisa muito traumática para uma pessoa, sobretudo aqueles que antes não tinham, começaram a ter alguma coisa e agora você retira deles. Não porque você quis, mas porque a inflação chegou e ele teve uma perda de emprego, uma redução de renda. Isso é muito ruim para a pessoa”, explica o professor da UnB José Carlos Oliveira.

Em tempos difíceis cada um tenta dá seu jeito. Promoção fora de época para quem quer vender, cursos para quem está desempregado.

Renda caindo, consumo também, desemprego lá nas alturas e os investimentos? Sumiram. E não tem perspectiva de melhora não. O pessoal está percebendo: o tamanho da fila do caixa que só passa dez volumes diz tudo.

É os preços dispararam, a renda média caiu, e a desigualdade entre ricos e pobres também está crescendo. É a primeira vez, desde 1992 que a desigualdade aumenta ao mesmo tempo em que a renda cai. Em outras crises, quando o salário médio caía, a desigualdade também estava em queda.

Fonte: G1, 28 de março de 2016.