O silêncio é o grande inimigo das mulheres vitimadas pela violência doméstica. Apesar do avanço trazido pela Lei Maria da Penha, que criminalizou as agressões, o medo de denunciar os atos violentos do companheiro ainda coloca em risco e prolonga o sofrimento de muitas delas. A percepção de que o assunto é restrito à vida privada também impede a interferência de outras pessoas que poderiam ajudar a quebrar o ciclo de maus-tratos. 

O Data Senado divulgou em 2013 a pesquisa "Violência doméstica e familiar contra a mulher", que constatou, entre outros aspectos, que 19% da população feminina com 16 anos ou mais já sofreram algum tipo de agressão e, destas, 31% ainda convivem com o agressor. Das que convivem com o agressor, 14% ainda sofrem algum tipo de violência. 

Dentre as mulheres que já sofreram violência, 65% foram agredidas pelo próprio parceiro de relacionamento - marido, companheiro ou namorado. Ex-namorados, ex-maridos e ex-companheiros também aparecem como agressores frequentes, tendo sido apontados por 13% das vítimas. Parentes consanguíneos e cunhados aparecem em 11% dos casos. 

Outra informação relevante é que, apesar de conhecerem a Lei Maria da Penha, apenas 40% das mulheres vitimadas afirmam ter procurado alguma ajuda logo após a primeira agressão. Para as demais, a tendência é buscar ajuda da terceira vez em diante ou não procurar ajuda alguma – o que acontece em 32% e 21% dos casos, respectivamente. 

Em relação à última agressão sofrida, 35% das vítimas oficializaram uma denúncia formal contra os agressores, em delegacias comuns, em delegacias da mulher ou na Central de Atendimento à Mulher (telefone 180), que já prestou mais de 2,7 milhões de atendimentos desde a sua criação até junho de 2013. Por fim, o medo do agressor foi apontado por 74,4% das mulheres agredidas - e que não denunciaram - como empecilho para fazer uma denúncia formal da situação. 

Ana Tereza Iamarino, assessora na Secretaria de Enfrentamento à Violência na Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, reforça que a questão da naturalização da violência doméstica é uma antiga realidade. "A secretaria trabalha com a perspectiva de mudar isto", afirma, citando que o balanço dos atendimentos pelo telefone 180 relativos ao ano passado (cujos números ainda não estão disponíveis) indicam um aumento significativo de denunciantes que não são a própria vítima. 

Ana Tereza ressalta que o medo é um grande empecilho para concretização da punição dos agressores. Conforme ela, as mulheres que sofrem violência física já passaram, anteriormente, por várias situações de violência psicológica, o que acaba por diminuir a capacidade de reação. "Por isso, precisam de ainda mais ajuda", considera, lembrando que os Centros de Atendimento à Mulher (CAM)dos municípios são os órgãos capacitados para acolher as vítimas e romper com o ciclo de violência.

Fonte: Folha de Londrina, 11 de abril de 2014.