Clima tenso no almoço de família ou amizades desfeitas nas redes sociais se tornaram comuns em meio à crise política do Brasil nos últimos meses. Mas quando o tema chega às conversas no ambiente de trabalho, a recomendação dos especialistas é cuidado redobrado para que as discussões não prejudiquem a imagem do funcionário na empresa.

Veja abaixo 7 perguntas com respostas de especialistas para evitar que discussões políticas no trabalho acabem pegando mal.

Para elaborar a lista, o G1 ouviu Flávia Mentone, consultora de recursos humanos e diversidade, Roberto Recinella gestor de capital humano especialista em neurocomportamento, e Luciana Tegon, da Sociedade Brasileira de Coaching.

1. Posso conversar sobre o tema com algum colega que eu sei que tem opinião oposta à minha?
Conversas equilibradas e discussões saudáveis podem ser válidas em qualquer ambiente. Mas, principalmente no trabalho, a principal recomendação dos especialistas é, além de respeitar opiniões contrárias, expor seus argumentos sem levar para o lado pessoal.

“Neste cenário atual, é natural que as pessoas sejam estimuladas a manifestar sua posição política, mas de forma objetiva e respeitosa, sem a paixão cega como vemos em discussões sobre futebol", completa Luciana.

Recinella aconselha que, se o objetivo é “ganhar uma briga”, é melhor repensar a atitude. “Você tem que lembrar que respeitar a opinião da pessoa não significa que você concorde com ela. Quando alguém quer entrar na conversa apenas para ‘vencer a discussão’, as pessoas acabam passando dos limites”, diz.

Mas, mesmo para conversas amigáveis, lembre-se: antes de iniciar qualquer conversa, avalie se o ambiente da empresa é propício à manifestação de sua opinião política, recomenda Luciana.

2. Ficar calado se o assunto surgir é a melhor saída ou pode passar uma imagem de "alienado"?
Tudo depende da situação. “Todos têm direito à uma opinião, colocá-la ou não é uma opção que deve ser exercida avaliando-se todo o contexto envolvido e possíveis impactos de seu posicionamento naquele ambiente e pessoas", diz Luciana.

"Isenção é algo que não é comum no clima turbulento de hoje, a pessoa certamente possui uma opinião. A questão é que ela pode abster-se de comentar para não se chatear com outras pessoas que possuem opinião contrária, o que também não deixa de ser uma escolha inteligente.”

Por outro lado, deixar de se posicionar sobre um assunto importante também pode passar uma imagem negativa, alertam Recinella e Luciana. "Ficar em cima do muro não é bom", diz ele. Já Luciana resume: "Abster-se pode passar a impressão de falta de educação política e ignorância da situação atual do país. Não ter uma opinião formada é tão ruim quanto ter uma e exaltar-se. São dois extremos que devem ser evitados."

3. Dar uma opinião política pode fazer com que alguém fique “marcado” entre os colegas?
Recinella diz que “rotular” colegas por causa de opiniões políticas é algo que deve ser evitado, pois pode inclusive prejudicar o andamento do trabalho.

“As pessoas gostam de ‘rotular’, dizem quem é ‘coxinha’ ou ‘mortadela’. Esses rótulos interferem no trabalho se as pessoas não tiverem maturidade. Elas podem até brincar com isso, como brincam com relação a times de futebol, mas quando começa a se tornar tópico para as relações de trabalho e das pessoas é negativo. Usar isso para denegrir alguém tem a ver com falácia”, explica o especialista. “Quando você discute qualquer assunto, discute ideias, não pessoas.”

4. Meu chefe tem uma opinião da qual discordo completamente. Se ele me perguntar o que penso, melhor mentir?
Essa pode não ser uma boa saída, alerta Flavia. "Não acho que mentir seja o melhor caminho, até porque muitas vezes podemos cair em contradição. Sugiro que responda o que o chefe está perguntando e, caso ele tente criar um debate político, fale que respeita a opinião contrária e encerre o assunto o mais rápido possível."

5. Se no meio de uma conversa alguém começar a se exaltar, o que fazer?
Se um colega se exaltar com você durante uma discussão, Flavia recomenda "escutar seus pontos de vista e dizer que respeita sua opinião", evitando desentendimentos. Em caso de ânimos mais acalorados, não tente argumentar uma opinião contrária para que o assunto seja encerrado o mais rápido possível, aconselha a especialista.

Agora, se a briga for entre outros colegas, avalie qual é a melhor atitude dependendo de sua proximidade com os envolvidos. "Se for alguém próximo, tente apaziguar a situação para que ele não passe dos limites e sofra as consequências. Não sendo alguém próximo, se afaste e não faça parte deste quadro inadequado corporativamente”, diz Luciana.

6. E o que fazer se o exaltado for o chefe?
Os especialistas concordam que a melhor saída é encerrar a discussão o mais rápido possível. "Em se tratando do chefe, não inflame mais o discurso. Se for possível, contemporize a situação. E último caso, se afaste da discussão", resume Luciana.

7. Nas redes sociais o assunto é mais livre, mesmo se eu tiver colegas de trabalho entre os amigos?
Nem sempre. "É preciso tomar cuidado com as mídias sociais. Às vezes você publica alguma coisa e está atingindo alguém, isso pode contaminar sua carreira", diz Recinella. "As pessoas precisam ser mais comedidas, pacientes e respeitar a opinião alheia."

Envolver-se em discussões na internet da maneira errada pode prejudicar sua imagem no trabalho, especialmente se em vez de argumentar diante de discordâncias a pessoa fizer ofensas com palavrões ou expressões preconceituosas, lembra Flavia.

Fonte: G1, 19 de abril de 2016.