O 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, foi marcado por violentos choques entre policiais e manifestantes em pelo menos quatro países. Reivindicações por melhores condições de trabalho e contra a perda de direitos foram o traço comum nesses protestos.

No Brasil, a repercussão sobre a data esteve mais ligada à disputa em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Movimentos que apoiam a presidente se reuniram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, em ato convocado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores). Opositores de Dilma se aglutinaram no ato comandado pela Força Sindical na Praça Campos de Bagatelle, onde a central sorteou 19 carros novos.

Tradição de conflito#

Ao contrário do clima de celebração registrado no Brasil, trabalhadores do Chile, Turquia, França e Filipinas foram reprimidos com bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e detenções.

A Turquia tem uma tradição de manifestações violentas no 1º de Maio. Sindicalistas e políticos relembram nas ruas um massacre ocorrido no dia 1º de Maio de 1977, em Istambul, quando mais de 30 pessoas foram mortas em enfrentamentos entre grupos de esquerda e de direita que dividiam em dois extremos a cena política do país. À época, a situação foi classificada como um “conflito armado de baixa intensidade” e pode ter deixado até 5.000 mortos em dez anos. Essa fase aguda de violência armada foi superada, mas os turcos ainda vivem um período de instabilidade política, marcada por movimentos separatistas e pelo governo de um presidente duramente questionado nas ruas. Recep Tayyip Erdogan foi repreendido por países europeuspela pressão e censura sobre órgãos de imprensa críticos ao seu governo. No protesto deste domingo, pelo menos um manifestante foi morto.

Na França, trabalhadores convocados pela CGT (Confederação-Geral dos Trabalhadores) protestaram contra a iniciativa de flexibilização das leis de trabalho, conhecida como Lei El-Khomri. Ao longo da semana, jovens mascarados protagonizaram enfrentamentos com a polícia em diversos locais de Paris. Quase 300 pessoas foram presas em conexão com essas marchas ao longo de toda a semana.

No Chile, manifestantes foram às ruas contra uma reforma trabalhista proposta pela presidente Michelle Bachelet. Ela lidera uma coalizão de centro-esquerda que vem sendo cada vez mais questionada pelo que os movimentos sindicais e estudantis consideram uma baixa sensibilidade aos temas sociais e trabalhistas. A polícia chilena usou canhões de água e lançou bombas de gás contra os manifestantes, que responderam atirando pedras, garrafas e tinta contra as viaturas e a tropa de choque.

Em Manila, capital das Filipinas, milhares foram as ruas e enfrentaram a polícia pela manutenção de garantias da previdência social e contra o aumento do trabalho informal. O presidente, Benigno Aquino, foi representado por um boneco gigante que segurava um cutelo - simbolizando seu papel de “cortador de empregos e de benefícios”.

Sem choques, mas com tensão

EUA, Espanha e Alemanha também tiveram manifestações importantes, mas com enfrentamentos de menor intensidade. Na Alemanha, a tensão se deu entre grupos de esquerda e de direita, apartados pela polícia. Nos EUA, cinco policiais ficaram feridos e nove pessoas foram presas na cidade de Seattle. Os americanos chamaram a atenção não apenas para questões trabalhistas, mas também para a perseguição a migrantes.

Quando nasceu o 1º de maio#

No dia 1º de maio de 1886 um grupo de trabalhadores da cidade de Chicago, nos EUA, liderou uma onda de protestos por melhores condições de trabalho e pelo estabelecimento da jornada diária de 8 horas.

Os trabalhadores foram reprimidos pela polícia e o movimento cresceu nos dias seguintes, levando a uma onda de paralisações e de novos choques, com prisões e mortes.

Três anos depois, na França, o Congresso Operário Internacional convocou uma série de protestos em homenagem aos trabalhadores que haviam sido reprimidos em Chicago. O movimento se repetiu anualmente, sempre marcado pela repressão policial.

Só em 1919 é que o Congresso francês estabeleceu a jornada de 8 horas de trabalho diária e decretou o 1º de Maio como feriado nacional. O gesto foi repetido em vários países, com manifestações, assembleias e confraternizações de trabalhadores ocorrendo sempre nessa data.

Fonte: Nexo, 03 de maio de 2016.