De casamento marcado para o mês de junho, William Ribeiro da Cruz, de 29 anos, já tem o planejamento de seu futuro profissional na palma da mão. A menos que haja uma reviravolta em sua vida, ele pretende continuar trabalhando por muito tempo na empresa onde conseguiu o primeiro emprego e que investiu em sua qualificação. Em oito anos de casa, o funcionário começou como ensacador terceirizado, passou a encarregado de transportes e hoje é o responsável pelo setor de faturamento do grupo, um dos maiores do ramo de bens de consumo no País.

A ascensão teve muito do esforço e do desempenho de Cruz, que conciliou o trabalho com o curso de Administração durante dois anos, mas também do reconhecimento da empresa. A pós-graduação em Logística Empresarial, concluída por ele ano passado, foi 50% financiada pelo Moinho Globo. 

"Com a pós, abri minha mente e pude ter uma noção mais ampla de todo o processo de produção, desde a colheita no campo até a entrega do produto ao consumidor final", afirma o auxiliar administrativo. Com os horizontes abertos, Cruz não vê motivos para levar sua bagagem a outras empresas tão cedo. "Quando um funcionário é valorizado pela empresa onde trabalha, tende a render mais, o que gera um crescimento das duas partes. Aqui eu tive essa valorização e não pretendo sair tão cedo", revela. 

A educação corporativa está sendo cada vez mais adotada pelas empresas como meio de suprir com sua própria força de trabalho a escassez de mão de obra qualificada no mercado. São questões de estratégia profissional e economia. "Hoje as empresas têm que formar os talentos internamente, por dois motivos: buscar fora custa muito caro, e há uma carência enorme de pessoas preparadas. Então, ao mesmo tempo que é uma forma de ajudar o funcionário, na outra ponta investir nos próprios profissionais é uma necessidade da empresa", avalia o diretor geral do Moinho Globo, Paulo Florêncio da Silva. 

Dos atuais 170 funcionários diretos do grupo, um está fazendo pós-graduação, dois cursam MBA e outros 15 estão na graduação, todos com financiamento da empresa (50% na pós e 100% nos cursos de graduação). 

O gerente de Capacitações e Cursos de Extensão da Unisinos, professor Rodrigo Dalcin, vê na educação corporativa uma estratégia inteligente das empresas em não apenas qualificar, mas fidelizar seus funcionários. "Ao serem envolvidas em capacitações voltadas para as suas atividades, as pessoas sentem que a empresa tem planos futuros para a sua vida profissional, ficam mais seguras em estarem conectadas à empresa, também, acabam assimilando melhor a visão e valores do negócio em que atuam, o que aumenta a fidelidade do colaborador com a instituição. Isso pode definir a retenção deste colaborador e pesa, seguramente, no momento de uma proposta externa em favor da permanência do atual emprego", afirma. 

Em relação à escassez de mão de obra qualificada no mercado de trabalho, Dalcin avalia que o quadro é real e advém do fato da rede de ensino convencional estar desconectada do mundo empresarial. E aí, o empregador acaba acumulando também o papel de formador. "Toda a teoria embarcada nos mais diversos cursos formais ofertados no mercado não prepara as pessoas para atuarem em funções que deveriam executar com pensamento estratégico sistêmico e de gestão voltado ao negócio", reflete o professor. "[As faculdades] Ensinam a um engenheiro todas as técnicas e cálculos avançados que envolvem os mistérios de uma linha de produção, por exemplo, mas ele acaba assumindo uma posição em que precisa fazer a gestão das pessoas da cadeia produtiva e isso nunca lhe foi mostrado em nenhuma sala de aula. O resultado dessa combinação indigesta é que a empresa acaba assumindo a função de formação executiva dos seus melhores talentos, para que possa prepará-los adequadamente para o trabalho", argumenta.

Fonte: Folha de Londrina, 14 de abril de 2014.