A especulação imobiliária e o aquecimento do mercado de construção civil, que inflacionou custos como os de material de construção e mão de obra, estão empurrando os conjuntos habitacionais construídos dentro do programa federal Minha Casa, Minha Vida para o extremo da cidade. Tanto que para conseguir viabilizar o próximo conjunto, com cerca de 7 mil casas, a Prefeitura está tentando passar para o perímetro urbano áreas que, somadas, chegam a 2,3 milhões de metros quadrados, hoje na zona rural. O principal motivo é que essas áreas, próximas à rodovia João Alves da Rocha Loures, têm custo mais baixo.

Os terrenos que a Prefeitura pretende incluir no perímetro urbano ficam em frente ao Jardim Nova Esperança e vão mais adiante. Essa inclusão, assunto tratado em dois projetos que tramitam na Câmara, aumentaria a distância do extremo sul da área urbana dos atuais 14 quilômetros para cerca de 18 quilômetros até o ponto mais central da cidade, o calçadão da Avenida Paraná. 

Fenômeno nacional

De acordo com o professor Gilson Bergoc, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina (UEL), esse fenômeno da alta dos preços dos terrenos tem acontecido no Brasil inteiro. “O fato de o Estado ter disponibilizado financiamento para habitação de baixa renda causou essa elevação. A pessoa que está com o terreno parado, esperando valorizar, joga o preço para cima.”

Isso, segundo ele, leva as construtoras a buscar terrenos mais baratos para casas populares – mais longe do centro das cidades. “Os proprietários de grandes áreas urbanas não estão interessados em melhorar a cidade, o grande interesse deles é o lucro”, completou.

Mecanismo legal

Bergoc defendeu que o Município use instrumentos que tem para “decretar algumas áreas de interesse social e diminuir o preço da terra”. Para o professor, esse mecanismo poderia forçar a baixa dos preços de terrenos que hoje já estão na área urbana.

Angel Félix, diretor do Sindicato os Corretores de Imóveis de Londrina (Sincil) e representante da entidade no Conselho Municipal de Habitação, corrobora essa avaliação. Ele acrescenta que há um “efeito dominó”, com terrenos mais caros e material de construção também.

Segundo Félix, o preço da mão de obra, que valorizou com o aquecimento do mercado, e até o prazo entre o término da construção do imóvel e a venda interferem no cálculo da viabilidade dos novos conjuntos residenciais. “Chegou ao ponto que o investidor, que quer vender casas dentro do Minha Casa, Minha Vida, tem de buscar terrenos em áreas mais distantes.”

“Cada unidade do programa, com terreno,
infraestrutura e construção, custa R$ 64 mil”

Ao justificar dois projetos de lei enviados para a Câmara, que incluem novos terrenos ao perímetro urbano, o presidente da Companhia de Habitação de Londrina (Cohab), José Roberto Hoffman, citou o problema do preço. Questionado sobre se, em vez de construir novas casas mais longe ainda, não seria melhor aproveitar terrenos urbanos sem uso, ele afirmou que é até provável que exista gente interessada em vender. “O problema é que as áreas que estão no perímetro urbano não custariam o valor que está sendo pago por essas [mais distantes]. E hoje o recurso que está disponível no Minha Casa, Minha Vida que é de R$ 64 mil por unidade para fazer a casa, a infraestrutura e comprar o terreno”, explicou.

Inviável

Segundo ele, fica inviável construir se o preço do terreno for muito alto. “Tivemos que partir para essa situação porque terrenos fora do perímetro urbano são mais baratos.”

Hoffman afirmou que no caso dessas áreas, toda a implantação de infraestrutura, como escolas, unidades básicas de saúde e outros serviços públicos, está prevista para evitar a repetição do que aconteceu no Vista Bela, na região norte da cidade. Ali, cerca de 2,7 mil moradias foram entregues sem a infraestrutura e em torno de 12 mil pessoas se mudaram para o local sem que pudessem ter acesso aos serviços públicos. Segundo ele, no novo empreendimento os equipamentos públicos serão entregues junto com as casas.

O professor do Departamento de Arquitetura da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Gilson Bergoc, ressaltou que a construção de casas populares “nas bordas da cidade” tem como reflexo o “aumento do custo urbano”. “Tem que levar a infraestrutura para lá e tem todos os serviços que serão redimensionados para atender a situação.” Esses custos são diluídos entre todos, aumentando os custos de manutenção da cidade.

Por outro lado, Bergoc lembrou que isso cria “bolsões de vazios urbanos que geram custos [para a cidade]”. “Esses terrenos não vão baixar de preço, só aumentam. A cidade toda paga pela valorização desses espaços.” 

Fonte: Jornal de Londrina, 22 de abril de 2014.