"Eu não sei mais se eu faço um curso na minha área, se eu faço um outro curso... Estou extremamente ansiosa. Às vezes, fico pensando à noite e não consigo nem dormir. Você pensa: ‘O que que vai ser da minha vida daqui um mês se eu não arrumar emprego? Vou viver de vento?’". Relatos como o da biomédica Ariane Bachega são cada vez mais comuns. Até o final de maio deste ano, 11 milhões de pessoas não possuíam uma ocupação no País. 
O desânimo aumenta a cada ‘não’ recebido nas entrevistas de emprego e a cada cobrança em atraso que deixa de ser paga. Um estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relacionou a desocupação a uma grave doença, a depressão. Dados de 2013 apontaram que a depressão atingia 7,6% dos brasileiros com 18 anos ou mais. O índice equivale a 11,2 milhões de pessoas. Entre as que possuíam emprego, 6,2% (5,6 milhões) apresentavam quadro de depressão. Dos que não trabalhavam, mas estavam em busca de uma vaga de emprego, 7,5% (374 mil) disseram ter tido diagnóstico médico de depressão. O maior índice foi constatado entre a população que não trabalhava e nem estava à procura de uma vaga. Neste caso, uma a cada dez (5,2 milhões) apresentava depressão. A chamada população que está "fora da força de trabalho" inclui estudantes com 18 anos ou mais, aposentados e pessoas que desistiram temporariamente de procurar emprego. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde realizada em parceria com o Ministério da Saúde. 
Para o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, a depressão ainda é tratada com descaso e preconceito. "A pessoa que recebe esse diagnóstico, muitas vezes, é vista como alguém que tem uma fraqueza de caráter ou falta de vontade. No entanto, essa pessoa deve ser tratada e não pode ser marginalizada. Ela precisa de ajuda. Falta um sistema de saúde com políticas públicas adequadas para atender essa demanda porque muitas vezes não se acredita que a doença mental exista", apontou. 
Segundo o especialista, a doença clínica pode acometer de crianças a idosos, sem distinção. A frequência é maior entre pessoas de 20 a 40 anos e entre as mulheres. "Nessa faixa etária, de duas a três mulheres para cada homem apresentam depressão. Depois da menopausa, essa proporção sobe para três a quatro mulheres com depressão para cada homem", explicou. A genética e o meio influenciam no desenvolvimento da doença. "Os pacientes apresentam alterações físicas, psíquicas e psicológicas. Fraqueza, desânimo, tristeza intensa, ideia de morte, desinteresse pelo dia a dia e memória reduzida estão entre os sintomas", lembrou. 
A psicóloga Priscila Sakuma, especialista em psicologia da saúde, destacou que a duração, a intensidade e a frequência do desânimo e da tristeza diferenciam o sentimento rotineiro da depressão. Quem está à procura de emprego e se vê diante da dificuldade de retornar ao mercado de trabalho, segundo a psicóloga, deve analisar os acontecimentos ao redor. "É importante avaliar o real. Às vezes, a gente começa a criar ideias de que não é mais capaz de fazer o trabalho, mas, na verdade, é preciso avaliar o que está acontecendo, o quadro econômico e a própria qualificação, por exemplo. Dessa forma, é possível perceber o que precisa ser feito para melhorar e talvez ter um retorno mais rápido", apontou. Cursos de qualificação gratuitos estão entre as opções para melhorar a qualificação. 
O papel da família também é fundamental, conforme a psicóloga. "É importante que eles demonstrem que a pessoa tem importância além do trabalho, que ela tem outras funções que vão além do emprego", lembrou. A mãe de Ariane, Jane Bachega, acompanha a filha na luta diária em busca de uma oferta de trabalho. "A gente faz o que pode, dá apoio e suporte para que ela consiga se restabelecer. Estamos procurando cursos também, mas ainda temos que ver o deslocamento e os valores para não comprometer o orçamento de casa", disse cautelosa.

Fonte: Folha de Londrina, 01 de julho de 2016.