A carne foi um dos vilões do consumo das famílias em Londrina no mês de julho. Seu preço subiu 6,8% e representou 35,6% do valor da cesta básica. Proporcionalmente, a banana aumentou mais (24%), mas o peso da fruta é bem menor na composição da cesta, cujo aumento total foi de 1,52%. Os dados são da pesquisa mensal realizada em dez supermercados da cidade por alunos da Faculdade Pitágoras, sob coordenação do professor Marcos Rambalducci, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Vilões em junho, feijão e leite tiveram expressivas reduções no mês passado, respectivamente de 9,6% e 7,4%. O óleo baixou 6,3%. O valor da cesta, para uma pessoa, ficou em R$ 396,55 contra R$ 390,62 no mês anterior e R$ 1.189,65 se considerada uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças). Esses são os valores médios obtidos no levantamento. Mas, se o consumidor estivesse disposto a fazer pesquisas em todos os dez estabelecimentos, conseguiria comprar a mesma cesta por R$ 330,34 uma economia de R$ 66,21, ou 16,7%, em relação ao preço médio.
O médico veterinário do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), Fábio Mezzadri, explica que o preço do boi gordo subiu em maio, mas que o impacto no varejo chega com um pouco de atraso. "Estamos num período de engorda, o gado está confinando, e a oferta diminuiu no mercado", afirma. Segundo ele, há um agravante de as pastagens estarem deterioradas por causa de geadas. "A tendência é termos um pouco mais de alta, com queda do preço da carne somente no último trimestre do ano", conta.
Já a zootecnista e consultora de Mercado da Scot Consultoria, Isabella Camargo, diz que os preços neste ano estão num patamar abaixo do ano passado. "Se compararmos o preço de julho deste ano com o mesmo mês do ano passado, teremos uma queda de 9,5%", alega. De acordo com ela, os produtores não estão conseguindo repassar os aumentos de custos que tiveram na produção. E não há espaço para queda de preço, mesmo com o consumo enfraquecido por causa da crise. "Os produtores estão todos reclamando", diz ela.
Acima da inflação
No acumulado do ano (janeiro a julho), a cesta básica do londrinense aumentou 11,6% e, em 12 meses, 24,4%. Os valores estão bem acima da inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Até junho, o IPCA acumulado é de 4,42% e, nos últimos 12 meses, de 8,84%. Mesmo que a inflação oficial tenha crescido expressivamente em julho (o dado ainda não foi divulgado), a alta do período será menos da metade do aumento da cesta.
"Durante muito tempo, a cesta básica caminhou alinhada à inflação oficial. Mas, nos últimos tempos, ela subiu mais", afirma o responsável pela pesquisa, Marcos Rambalducci. De acordo com ele, há duas explicações para o descolamento entre os dois indicadores. Um deles são os efeitos do clima sobre a produção dos principais componentes da cesta. "Mas também temos a questão cambial. Enquanto o câmbio estava próximo dos R$ 2, a cesta e o IPCA andaram mais ou menos juntos. Quando o dólar chegou a R$ 4, a diferença era grande", afirma.
A influência do dólar sobre os preços de insumos e da ração tiveram grande impacto no aumento dos produtos da cesta básica. "O milho e a soja (para produzir ração) são cotados em dólar, assim como a carne que é exportada. O Brasil importa 50% do trigo que usamos e o aumento do dólar também influenciou por causa disso", justifica. Mas a tendência, segundo Rambalducci, é de o preço da cesta básica convergir em direção ao IPCA. "Haverá um realinhamento", garante.
Quanto ao preço da carne, na opinião do professor, só deverá haver queda a partir de setembro. "As pastagens estão muito ruins", ressalta.
Fonte: Folha de Londrina, 02 de agosto de 2016.