Indícios de superfaturamento nas obras de modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, podem ter relação com esquemas de desvio de dinheiro operados pelo doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). A reportagem apurou que a PF avança para descobrir se a Repar, localizada em Araucária, cidade da Região Metropolitana de Curitiba, também foi alvo de um esquema semelhante ao tratado pelo Ministério Público Federal (MPF) na denúncia envolvendo outra refinaria da Petrobras, a Abreu e Lima, na cidade de Ipojuca, em Pernambuco. 

Relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU) apontam que dos 19 contratos firmados no ano de 2009 para execução de obras de modernização e adequação do sistema de produção da Repar, pelo menos sete têm indícios de superfaturamento e até hoje não tiveram sua análise concluída pelo órgão em Brasília. 

O principal procedimento aberto pelo TCU para verificar as supostas irregularidades na Repar teve sua confidencialidade alterada para "sigilosa" no último dia 21 de março, quatro dias depois da deflagração da primeira fase da Operação Lava Jato. Procurada ontem pela reportagem, a assessoria de imprensa do TCU disse que nenhuma informação sobre processos em andamento, incluindo os que envolvem a Repar, pode ser divulgada. 

Em 2011, após reiterados alertas do TCU sobre as obras na Repar, a Comissão de Serviços e Infraestrutura do Senado chegou a organizar uma audiência pública para tratar do tema. Na ocasião, técnicos do TCU revelaram que o sobrepreço identificado nos contratos chegaria a R$ 1,4 bilhão. 

Entre as empresas e consórcios que firmaram contratos para as obras na Repar, está a Camargo Correa S/A, citada na denúncia do MPF que trata da refinaria de Pernambuco. Investigações da PF apontam para um desvio milionário de recursos na Abreu e Lima através do Consórcio Nacional Camargo Correa (CNCC), que teria subcontratado empresas ligadas ao doleiro e ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, também preso na Operação Lava Jato. 

Ontem, em relação à Repar, a Camargo Correa informou, por meio da assessoria de imprensa, que "prestou esclarecimentos ao órgão de fiscalização de que não procede a acusação de sobrepreço". 

Os procedimentos abertos para verificar os 12 outros contratos acabaram arquivados pelo TCU. Deste grupo, estão contratos firmados com empresas que também são citadas nas investigações da Lava Jato, como a Engevix e a Jaraguá. 

De acordo com informações obtidas pela FOLHA, o foco da força-tarefa que trabalha na Operação Lava Jato será, daqui para frente, esclarecer como foram feitos os supostos desvios nas refinarias e se havia a participação de Paulo Roberto Costa em todos eles. "O que se quer saber é de onde veio todo o dinheiro lavado, como era o modus operandi. A suspeita é que (o dinheiro) tenha vindo de desvios nas refinarias, inclusive da Repar", informou uma fonte que pediu para não ser identificada. 

Abreu e Lima
O projeto da refinaria de Abreu e Lima foi lançado em 2005. Naquele ano, Paulo Roberto Costa era diretor de Abastecimento da Petrobras, cargo que ocupou até abril de 2012. Em março de 2008, ele se torna também conselheiro de Administração da refinaria em Pernambuco. 

Os procedimentos licitatórios para execução da obra foram ganhos por cinco consórcios, sendo um deles o CNCC, controlado pela Construções Camargo e Correa S/A (com 90% das ações) e pela empresa Worley Engenharia S/A (10%). O contrato sob responsabilidade do CNCC acabou sendo alvo do TCU, por apresentar indícios de superfaturamento ou sobrepreço na execução do serviço e no fornecimento de materiais. A PF também investiga indícios de direcionamento nos procedimentos licitatórios. 

Além disso, a CNCC subcontratou as empresas Sanko Sider Ltda e Sanko Serviços de Pesquisa e Mapeamento. Segundo a PF, essas empresas foram indicadas por Paulo Roberto Costa e por Youssef e receberam por serviços inexistentes e produtos superfaturados. 

Através dessas duas empresas, valores foram movimentados para a MO Consultoria e Laudos Estatísticos e GFD Investimentos, ambas de propriedade de Youssef, mas registradas em nome de laranjas. A partir daí, ainda segundo a PF, o dinheiro foi pulverizado: parte para sociedades controladas por Youssef, parte sacada em espécie ou remetida para o exterior através de contratos de câmbio de importações simuladas.

Fonte: Folha de Londrina, 29 de abril de 2014.