No dia escolhido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para lembrar as vítimas de acidentes de trabalho em todo o mundo, a queda do operário Adenir Dias do sexto andar de um edifício em construção no bairro Nossa Senhora de Lourdes, na zona leste de Londrina, ontem pela manhã, engrossou uma estatística crescente e preocupante. O Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) registrou em 2012 a ocorrência de 724.169 acidentes de trabalho no País e 51.052 no Estado. Ao todo, 2.731 trabalhadores morreram no Brasil nesse período, 215 deles no Paraná. A FOLHA foi informada pelo setor de comunicação social da Previdência Social de que o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho disponível no site do ministério só possui dados até 2012.
Adenir Dias, de 50 anos, sofreu traumatismo craniano e fraturou um dos pés, segundo a equipe do Siate que o socorreu pouco antes das 9 horas e o encaminhou ao Hospital Universitário (HU). O último boletim médico divulgado pela assessoria de imprensa do hospital até o fechamento desta edição informou que o operário permanecia em estado grave, entubado e respirando por aparelhos. Ele estava internado no pronto-socorro.
Fiscalização
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Londrina (Sintracon), Denilson Pestana, lamentou mais um incidente num canteiro de obras e aproveitou o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidente de Trabalho para cobrar mais fiscalização e atenção por parte do Ministério do Trabalho e da Previdência Social. "Falta uma política pública para a questão da segurança do trabalho. Não é uma prioridade nem do Ministério do Trabalho nem da Previdência Social", sentenciou. "É uma dificuldade porque não temos condições de trabalhar os dados relacionados a esse problema. Não temos sequer estatísticas atualizadas sobre os tipos de acidentes que ocorrem nas obras. Como é que eu vou fazer o prognóstico se não há o diagnóstico?", questionou Pestana.
O sindicalista emendou que o Sintracon tem feito fiscalizações sistemáticas nas obras da construção civil em Londrina e pedido auxílio ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério do Trabalho. Indagado sobre as condições de trabalho da categoria na cidade, ele avaliou que a situação é ruim nas obras de pequeno porte. "Em relação à segurança, não há equipamentos de proteção individual e coletiva. Além disso, faltam sanitários e até papel higiênico nessas obras", denunciou. Nos casos das obras de médio e grande porte, Pestana reconheceu que as condições não são as ideais, mas que "dentro do que prevê a legislação, podemos dizer em média que são razoáveis." "Temos o acompanhamento do Seconci (Serviço Social do Sindicato da Indústria da Construção Civil), uma conquista nossa, e as construtoras estão mais passíveis de fiscalização", ponderou.
No caso específico da obra onde o operário Adenir Dias se acidentou, o presidente do Sintracon afirmou ter obtido informações de que os trabalhadores utilizam equipamentos de segurança adequados, mas que o cinto utilizado por Adenir não estava fixado corretamente no cabo guia do andaime do qual ele caiu. "Se estivesse, o andaime cairia e o operário teria ficado pendurado", contou. "O que precisamos saber é se ele foi treinado para utilizar o equipamento corretamente. Se não foi, a culpa é da empresa. Se foi, houve um descuido do operário", comentou. O operário caiu de uma altura estimada em 18 metros. A FOLHA ligou para a construtora ontem à tarde, mas foi informada de que os responsáveis pela empresa estavam em reunião.
Segurança
O gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego em Londrina, Dorival Silvestre, garantiu que a fiscalizações as obras da construção civil são realizadas com regularidade em Londrina e nos outros 92 municípios de responsabilidade da delegacia. "Estamos atendendo a contento. Todas as denúncias que aparecem enviamos nossos fiscais", garantiu. Ele informou que no momento em que falava com a reportagem, no final da tarde, uma equipe estava na obra na zona leste para verificar as condições de segurança dos operários. "Nesses procedimentos verificamos se os trabalhadores estão com equipamento de segurança. Se há grave e iminente risco de acidente, a obra é interditada", explicou.
Fonte: Folha de Londrina, 29 de abril de 2014.