Existirão outras profissões no futuro? Que competências os jovens precisam aprender hoje para se prepararem? Essas são algumas das perguntas que tem mobilizado especialistas em educação e mercado de trabalho a buscarem aperfeiçoamentos nos sistemas de ensino atuais.
Para estudiosos, habilidades como resiliência, curiosidade, colaboração, pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, por exemplo, serão as habilidades de trabalho do futuro, ou seja, deixarão de ser técnicas, para se tornarem sociais e emocionais.
Para o diretor executivo da fundação educacional Lemann, Denis Mizne, com o acesso abundante ao conteúdo, as pessoas precisam saber separar fatos e opiniões, saber navegar em meio a muitas informações não filtradas, por isso é importante ter o pensamento crítico, pois desta forma, ficará mais fácil para se adaptar as profissões futuras.
A professora Carmen Migueles, especialista em educação e desenvolvimento organizacional da EBAPE-FGV, diz que ensinar habilidades como pensamento crítico entre outras características, requer cuidado para não atrapalhar no conteúdo escolar. Ela ainda diz que parte das novas gerações,crescidas na internet, perderam o contato com o sacrifício e a capacidade de vencer obstáculos.
Debate
As habilidades das gerações futuras foram debatidas recentemente em eventos nacionais e internacionais: no seminário Educar Para as Competências do Século 21, em março, no Brasil, e na Conferência de Educação Privada, realizada em abril em San Francisco (EUA) pela International Finance Corporation, ligada ao Banco Mundial.
Um dos participantes da conferência internacional foi o especialista americano Brian Waniewski.
Durante o evento, em entrevista à BBC Brasil, Waniewski disse que é necessário aprender a aprender e, a curiosidade não é algo que seja muito estimulado pelos sistemas educacionais atuais, além disso, ele diz que o mercado de trabalho se move mais rápido do que o educacional.
Mas já existem diversos experimentos em curso para ensinar e mensurar essas habilidades. Um deles é do próprio Waniewski, ex-diretor do Institute of Play, empresa que desenvolve métodos de ensino baseados em jogos.
Na prática
Waniewski aponta que o uso de jogos na sala de aula ajuda a simular a resolução de problemas na vida real. Então, a mesma lógica vale para levar casos concretos e questões da vida real, por exemplo, problemas da comunidade devem servir para o debate entre alunos, em vez de focar apenas o conteúdo teórico, desta forma, se trabalha habilidades como resiliência, curiosidade, colaboração, entre outras.
Experimentos
Recentemente no Brasil, o Instituto Ayrton Senna e a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) fizeram um estudo, com 24,6 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro, com uma ferramenta desenvolvida para a medição de competências socioemocionais.
As conclusões do estudo são de que ter em casa mais de uma estante de livros aumenta em 40% a chance de uma criança ser mais aberta a novas experiências; e que estimular habilidades como planejamento e o protagonismo entre os alunos melhora seu desempenho em matemática e português, respectivamente.
Em entrevista à BBC Brasil Mozart Neves Ramos, o diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna revelou que as escolas em geral já praticam essas habilidade em seu cotidiano, mas de maneira não intencional.
O Instituto agora testa a incorporação dessas habilidades no currículo escolar do Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio - incluindo treinamento de professores, projetos interdisciplinares envolvendo capacidades socioemocionais e estímulo a que os alunos elaborem 'projetos de vida', com planos para o futuro.
Fonte: Bonde, 05 de maio de 2014.