A morte materna ainda é um desafio para a saúde pública. Mais de 800 mulheres morrem no mundo todos os dias devido a complicações na gravidez e no parto, como mostrou a Organização Mundial da Saúde (OMS) em dados divulgados ontem. Apesar de ter havido uma redução de 45% nas últimas duas décadas - em 1990, foram 523 mil mortes - a OMS identificou que 289 mil mulheres morreram em 2013 devido a complicações relacionadas à gravidez e ao parto. 

A taxa de mortalidade materna nos países desenvolvidos em 2013 foi de 16 mortes para cada 100 mil nascidos vivos e de 230 nos países em desenvolvimento. A taxa tolerada pela organização é de 20 mortes apenas. No Brasil, a taxa ficou em torno de 65 mortes para cada 100 mil nascidos vivos no ano passado. 

Um número que ainda preocupa entidades de saúde, já que a taxa no País deverá chegar a, pelo menos, 35 a cada 100 mil nascidos vivos em 2015, conforme meta estabelecida no Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal. "Esse número reflete o quanto cuidamos da saúde materna em nosso país. A taxa precisa baixar consideravelmente, mas não estamos conseguindo, como foi feito com a mortalidade infantil. Isso deve ser prioridade nas políticas públicas", alertou a médica Ana Luiza Fontes, presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Bahia (Sogiba) e integrante da comissão de Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). 

Segundo Ana Luiza, cerca de 90% dos casos de morte materna poderiam ter sido evitados. Entre as principais causas que levaram mulheres à morte foram hipertensão, infecção, hemorragias e complicações de abortos clandestinos, exatamente nessa ordem. 

"Essas situações acontecem ainda pela dificuldade de acesso a exames complementares, insuficiência de leitos obstétricos, falta de agilidade na transferência para um hospital com mais recursos, falta de pessoas para trabalharem nas unidades, bem como o preparo delas, além de um acompanhamento de pré-natal mais cedo e eficiente", resumiu, atentando que, mesmo com uma boa cobertura – cerca de 90% das mulheres fazem o pré-natal – ele ainda é de baixa qualidade. 

Outro dado alarmante é que a gravidez é a maior causa de morte entre adolescentes no mundo. Conforme a gerente executiva de programas e projetos da Fundação Abrinq – Save the Children, Denise Cesario, um dos principais fatores é a realização de abortos clandestinos e a predisposição a complicações da saúde das jovens devido ao corpo ainda em formação. "Não é difícil nos depararmos com casos de meninas de 10, 11 anos de idade que ficam grávidas. É fundamental que elas tenham informação e orientação sobre saúde sexual e reprodutiva para não engravidarem. Mas, se isso acontecer, que possam ter uma rede de apoio – unidades de saúde, escola e família - que as acolham de forma adequada", pontuou. A fundação possui atividades de abordagem direta às adolescentes, parcerias com comitês de mortalidade infantil e materna e programas educativos de rádio para a redução da gravidez precoce.

Fonte: Folha de Londrina, 07 de maio de 2014.