A “atividade em função do ócio”, uma afirmação que resume bem a proposta dessa publicação. O trecho acima foi retirado de um discurso do filósofo grego Aristóteles realizado aproximadamente 357 a.C.
De acordo com a Wikipédia, a defesa do ócio enquanto um momento de criação e reflexão aparece na literatura do ocidente como uma resposta à sociedade industrial que tornou os indivíduos cada vez mais atarefados e presos ao mundo do trabalho. Um entendimento bem diferente da interpretação primária e primitiva de "não fazer nada".
Reforçando esse pensamento, gosto muito da abordagem de que o futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação ou dever e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre, com o estudo e com o jogo, enfim, com o ócio criativo (Domenico De Masi).
Na história da evolução humana passamos por longo aprendizado: caminhar de forma ereta, utilizar os membros superiores, adaptar-se aos elementos da natura, dominar os animais com diferentes finalidades e fabricar objetos. Pessoalmente, não acredito que tantos feitos tenham sido possíveis sem o uso da criatividade e observação/reflexão. Na era contemporânea, fatalmente motivados pelo ócio, criamos o controle remoto, aparelhos de comunicação, meios de locomoção rápida etc.
Pare por um minuto e pense sobre o conceito da “aposentadoria”... exemplo prático e atual da atividade em função do ócio, apesar de algumas exceções, é o motivador comum de toda a força de trabalho do país.
Agora deixarei uma pergunta para eventuais contribuições nos comentários: Por que buscamos a produtividade, processos e produtos mais eficientes? Claro que seguido de mais dois ou três “por quês” para obter a resposta final.
Em relação ao mercado de trabalho, vejo que muitos gestores não acreditam ou não conseguem entender o benefício do ócio criativo. Entendo que não é razoável imaginar uma equipe “full-time produtiva”. Pior, ainda que tenhamos uma, será contraproducente no longo prazo, pois provavelmente atuará num ambiente pouco agregador e sem criatividade.
Outro ponto interessante é que possivelmente você já tenha ouvido de alguém, famoso ou do seu cotidiano, que teve uma grande ideia no cinema, no shopping, no parque com as crianças, na caminhada matinal ou até no banho. Há estudos que indicam que pessoas com períodos recorrentes de lazer colaboram para uma mente saudável e mais criativa.
Algumas empresas com DNA inovador já fazem eficazmente, e incorporado à cultura, uso do ócio criativo. Não por acaso a Apple é conhecida pela inovação. Há outros grandes exemplos: Google, Amazon, Facebook, UOL, Walt Disney, 3M e tantas outras. Já temos até mesmo seguradoras brasileiras repensando os seus produtos e fomentando uma cultura mais inovadora (seguro diferente), distante do modelo tradicional, com ambiente de trabalho diferenciado e estímulos para colaboração entre as equipes.
Não quero dar a entender que todos os gestores, de qualquer área ou natureza de atividade, devam definir um horário de ócio criativo. Não é assim que funciona, nem mesmo precisa ter um formato padrão. Pelo contrário, deve surgir naturalmente, preferencialmente como uma discussão saudável.
Mal comparando, podemos verificar ineficiência até mesmo num parque de maquinários onde todas as máquinas operam com 100% da capacidade. Isso mesmo, você não leu errado, a falta de ociosidade nos maquinários pode impactar na produtividade desejada. Vou tentar explicar meu raciocínio num breve exercício lógico.
Considere a premissa de que para elaboração de um produto acabado, em geral, é necessária uma quantidade “n” de diversos componentes. Essa quantidade “n” de componentes é produzida por um conjunto de máquinas de diferente capacidade de produção. Se a capacidade de produção dos componentes for desproporcional ao necessário para confecção do produto final, e todas as máquinas operarem em 100%, provavelmente haverá ineficiência na gestão de produção – estocagem de componentes que não serão utilizados no período para o produto final, aguardando assim a confecção dos componentes restantes.
Enfim... Se você como gestor de equipe ou de algum processo exige “zero ociosidade”, fazendo uma autoanálise, provavelmente se verá numa situação contra produtiva.
Fonte: Linkedin, 19 de outubro de 2016.