O velho ditado “Amigos, amigos, negócios à parte” pode ser adaptado para a amizade entre chefes e funcionários? Para especialistas ouvidos pelo G1, é possível manter a relação de amizade no ambiente de trabalho, desde que patrão e empregado consigam separar os assuntos profissionais dos pessoais. O G1elaborou um tira-dúvidas sobre o assunto com os consultores de carreira Max Gehringer, Roberto Recinella e Luciana Tegon. Confira abaixo as perguntas e respostas e veja se você vivencia ou já passou por algumas dessas situações.
NO ESCRITÓRIO
As empresas veem com bons olhos chefe que é amigo do funcionário?
Roberto Recinella: Depende do equilíbrio da relação, principalmente da maturidade de ambas as partes em não misturar o pessoal e o profissional. Se bem administrada, a amizade só trará benefícios para colaboradores, chefias e empresas.
Max Gehringer: Sim. Quem normalmente não vê com olhos tão bons são os colegas que não têm amizade com o chefe e acabam acusando o colega amigo de puxa-saquismo e favoritismo. Mas eu nunca conheci nenhuma empresa que tenha insinuado que chefes e funcionários não devessem ter amizade fora do ambiente de trabalho.
Luciana Tegon: O bom clima organizacional é composto de equipes que se dão bem entre si e com os gestores. Quando falamos de amizade no sentido de ir além do ambiente profissional, esse fato pode causar certa intranquilidade nas instâncias superiores, pois pode dar a entender que o chefe tende a proteger o funcionário "amigo" em caso de falhas ou má performance.
Essa relação pode interferir no desempenho de ambos?
Roberto Recinella: Sim, se um dos lados não souber respeitar os limites da amizade, que pode ser de vínculo antigo ou originária do convívio na empresa. Qualquer que seja a origem, ambos devem estar atentos ao fato de que qualquer coisa que façam pode levar a comentários de favorecimentos, por isso, o tratamento deve ser exemplar e justo quando se trata de um amigo.
Max Gehringer: Sem dúvida, porque amigos tendem a perdoar derrapadas. Um bom chefe saberia separar o lado profissional do lado pessoal. Isso não é difícil em teoria, mas na vida prática um chefe tende a ser muito mais severo ao avaliar o erro de um funcionário não-amigo.
Luciana Tegon: Interfere na medida em que o chefe e o funcionário deixam de ser profissionais no ambiente de trabalho. Intimidade demais ou tratamento diferenciado não cabem dentro da empresa.
Almoçar juntos pega bem?
Roberto Recinella: Não vejo problema algum, os colaboradores sempre deveriam almoçar juntos, de preferência com pessoas diferentes e mudando de grupos, pois é uma ótima oportunidade de conversar com colaboradores de outros setores. Isso evita panelinhas e amplia o networking. Apenas se torna um problema se na maioria das vezes ambos almoçam sozinhos e, pior ainda, se o chefe em prol da amizade paga sempre o almoço com a verba da empresa.
Max Gehringer: Esporadicamente sim, todos os dias não. Mesmo que os dois falem apenas sobre futebol ou outras amenidades, qualquer exposição pública que possa passar a impressão errada deve ser evitada.
Luciana Tegon: É comum o chefe almoçar com a equipe independente de ter amizade ou não, é uma atividade importante para a integração das pessoas e é tida como normal dentro de uma empresa.
SEPARAÇÃO DE PAPÉIS
Como saber que estou misturando as coisas? Quais são os indícios?
Roberto Recinella: Pelo excesso de liberdade. Observe se você está fazendo algo que mais ninguém da equipe está fazendo, por exemplo, como começar a chamar o chefe por apelidos ou nomes que são apenas conhecidos em sua vida particular, contar situações engraçadas ou micos que você teve chance de presenciar devido à sua amizade, usar de sua proximidade para obter informações privilegiadas, falar mal dos colegas, entrar na sala sem ser anunciado, espalhar via “radio-peão” os locais que vocês frequentaram ou a viagem que fizeram juntos.
Max Gehringer: Um começa a contar para o outro de quem gosta e de não gosta, e o outro compartilha. Não cabe ao chefe fazer uma avaliação de desempenho de seus subordinados para um deles. Aí, a relação já passou da conta.
Luciana Tegon: Quando um funcionário leva a crítica do chefe para o lado pessoal, quando as pessoas comentam que há tratamento diferenciado por parte do chefe ao "amigo funcionário", quando há intimidade ou brincadeiras pessoas demais no ambiente de trabalho, quando há assuntos totalmente alheios ao ambiente de trabalho sendo tratados na frente dos demais funcionários, por exemplo, combinação de um churrasco ou viagem.
Como é possível separar a relação dentro do escritório e fora dele?
Roberto Recinella: A linha é tênue, mas ambos os lados devem se policiar para não ultrapassá-la, por exemplo, falar de trabalho em momentos de lazer. Eu trabalhei com um diretor que sabia separar muito bem. De dia durante as reuniões estratégicas com a equipe era duro, direto e cobrava resultados, à noite quando saía para jantar era uma pessoa divertida e afável. Ele dizia que no escritório ele era o diretor que respondia pela responsabilidade do cargo, já na happy hour era um ser humano confraternizando com sua equipe.
Max Gehringer: De duas maneiras. Pelo lado do chefe, evitando revelar ao subordinado amigo fatos sobre a empresa que ele não revelaria aos demais subordinados. Pelo lado do amigo, agindo no ambiente de trabalho como se a amizade só existisse fora dele.
Luciana Tegon: Há comportamentos diferentes no trabalho e na vida pessoal. O chefe deve entender que tem o dever de avaliar a performance do funcionário com justiça e equanimidade. O funcionário deve entender que mesmo sendo amigo do chefe não deve usar a condição para ter privilégios ou "fazer menos" porque talvez não seja cobrado.
FORA DO ESCRITÓRIO
Frequentar a casa um do outro é recomendável?
Roberto Recinella: Não existe regra e depende da maturidade de ambos, mas deveria ser evitado para não correr o risco de a “liberdade” ser mal interpretada pelos colegas como proteção ou “puxa-saquismo”. Além disso, a convivência abrirá espaço para conversas profissionais indevidas, e a confusão estará feita.
Max Gehringer: Costuma ser inevitável, principalmente quando cônjuges são trazidos para a relação e descobrem que têm muito em comum. Mas isso não é necessariamente ruim. Há pessoas que teriam se tornado amigas fora do trabalho, e não há por que não se tornem se trabalham juntas.
Luciana Tegon: Esse tipo de intimidade só é possível se ambos souberem separar muito bem a amizade da vida profissional, caso contrário, não é recomendável, pois pode interferir no relacionamento, nos feedbacks negativos e na própria amizade.
NA INTERNET
Postar na internet fotos e elogios mostrando a amizade de ambos pega bem?
Roberto Recinella: Evite ao máximo esse tipo de atitude. Quem tem amigos importantes não se vangloria deles. Se um dia você for promovido ou receber uma premiação, todos ficarão na dúvida se foi por mérito próprio ou amizade.
Max Gehringer: Pega tremendamente mal. É dar munição aos colegas invejosos ou críticos.
Luciana Tegon: Isso vai de cada caso. Um líder respeitado pela equipe e que trata todos com os mesmos critérios, independentemente de ter ou não amizade com o funcionário, pode não ser afetado por uma postagem desse conteúdo, já que suas atitudes são coerentes no âmbito profissional. Já um chefe acusado de proteger funcionários "queridos" será alvo certeiro de críticas quando os posts forem vistos pelas pessoas da empresa.
RELAÇÃO COM O CHEFE
Como faço para criticar uma decisão do meu chefe relacionada ao trabalho?
Roberto Recinella: Com respeito e delicadeza. Evite fazer isso em público, nunca o confronte no meio de outras pessoas, marque uma reunião para expor a sua crítica. Geralmente em amizades maduras o chefe espera que o colaborador/amigo seja honesto com ele e tenha liberdade de alertá-lo e criticá-lo em prol de melhores resultados.
Max Gehringer: Regrinha fundamental: nunca critique seu chefe. Não é seu papel. Subordinados existem para apoiar seus superiores hierárquicos. Quem critica o chefe é o chefe dele.
Luciana Tegon: Da mesma forma que faria com qualquer outro gestor. Peça a palavra e coloque racionalmente seus argumentos sobre o assunto, sempre com respeito.
O colaborador se tornou amigo do chefe, mas sentiu que a relação entre eles ficou menos profissional. Tem como voltar atrás e “cortar a intimidade”?
Roberto Recinella: Agindo com maturidade, o colaborador pode sair fortalecido da situação. Para isso, deve ser transparente dizendo que em sua opinião a relação entre eles está prejudicando os resultados da empresa e que sua sugestão é mantê-la longe da empresa e estabelecer um distância segura que não ponha em risco a carreira de nenhum dos dois. Porém, se o chefe for imaturo, pode ficar “magoado” e interpretar isso como uma rejeição e assim colocar sua carreira na geladeira ou até começar a “pegar no seu pé”.
Max Gehringer: O chefe não precisa dizer nada para o subordinado, basta começar a tratá-lo da mesma maneira que trata os demais. E, se o subordinado entrar na sala sem ser chamado, fechar a porta e sentar-se para bater um papo, esse é o momento em que o chefe pode, delicadamente, dizer que amizade e profissionalismo não se misturam, mesmo que tivessem se misturado até pouco tempo antes.
Luciana Tegon: Há formas de deixar claro ao chefe que aprecia sua amizade, mas que ambos têm que tomar cuidado para que a amizade não sobressaia no ambiente de trabalho, o que pode incomodar inclusive outras pessoas da equipe e passar uma imagem ruim de ambos.
Meus colegas estão falando mal do meu chefe na minha frente. O que eu faço? Defendo ele, ouço sem interferir e depois conto tudo pra ele?
Roberto Recinella: Ouça sem interferir e não faça nada, a não ser que o dito seja antiético, difamatório ou uma grande mentira e possa prejudicar a imagem dele. Se você o defender ou contar algo será taxado de bajulador ou dedo duro. Uma atitude que você poderia tomar é apenas questionar o motivo pelo qual eles não expõem isso diretamente ao chefe. Na maioria das vezes, as críticas e desabafos são inofensivos, servindo apenas para aliviar o estresse da equipe. Afinal, falar mal do chefe é uma unanimidade nacional.
Max Gehringer: Contar tudo para ele transforma você em um informante do chefe. Mesmo que ele ouça, você vai acabar arranjando problemas com seus colegas. Se um grupinho estiver falando mal do chefe, o melhor que você pode fazer é sair de perto.
Luciana Tegon: A verdade é sempre o melhor caminho, mas falar a verdade tem um preço. Você pode colocar seu ponto de vista e pode também não fazer parte da "roda", pois dizem que fofoqueiro não é só quem fala, mas quem escuta também. Quanto a contar ao chefe, às vezes pode não ser a atitude mais acertada, no máximo alertá-lo que existem críticas em relação à gestão dele, mas de forma construtiva para não causar conflito.
Posso pedir referência para o meu chefe/amigo em caso de aparecer uma vaga de emprego em outro lugar?
Roberto Recinella: Pode, desde que essa mudança seja benéfica para sua carreira e que todo o processo de mudança seja feito de modo transparente. Não há nada de errado em planejar sua carreira e almejar progredir. Se ele for realmente seu amigo vai torcer para que você seja bem-sucedido.
Max Gehringer: Se você pedir e ele der, ele é um mau chefe. Ele está sendo pago pela empresa para manter um grupo unido e evitar que os bons saiam.
Luciana Tegon: Referências são muito importantes quando estamos disputando uma nova colocação, e contar com o chefe é algo de muito valor nessa hora. Se você não está satisfeito no atual emprego, seja sincero com seu chefe, é possível que ele até o apoie em sua recolocação.
Estou infeliz no meu trabalho e acho que ganho pouco. Pega mal eu pedir aumento para meu chefe ou dizer que quero mudar de função?
Roberto Recinella: Independentemente da amizade, essa conversa deve ser existir de tempos em tempos com a sua chefia. Quanto ao aumento, verifique qual a política de cargos e salários da empresa e sempre tenha os seus dados de desempenho e de contribuição nos resultados na empresa para justificar o seu pedido. O que não pode é pedir ao seu chefe/amigo um jeitinho de aumentar seu salário ou mexer os pauzinhos a seu favor. Peça apenas que ele seja justo e seja a sua voz nas esferas superiores da empresa, desde que você mereça.
Max Gehringer: Não. Você estaria agindo como qualquer subordinado na mesma situação, e isso nada tem a ver com amizade, mas como desenvolvimento profissional.
Luciana Tegon: Qualquer situação de insatisfação deve ser tratada com o chefe, de forma transparente. Ao chefe cabe avaliar a solicitação e acenar ou não com a possibilidade de atender ao pedido. Em caso negativo, o funcionário pode buscar uma recolocação.
Recebi uma proposta de emprego. Faço a entrevista e depois conto para o meu chefe ou conto antes mesmo de participar do processo seletivo?
Roberto Recinella: Essa é outra situação delicada que depende da maturidade da relação. Eu contaria sobre a proposta e sobre a entrevista para conhecer os detalhes e que depois voltaria a conversar sobre o assunto. Não há nada de errado nisso, desde que as coisas sejam transparentes. Se a proposta for boa, seu amigo/chefe terá a oportunidade de fazer uma contraproposta ou orientá-lo a aceitá-la e ainda lhe dar uma bela carta de recomendação.
Max Gehringer: Se você for amigo do chefe, conte. Se não contar, a amizade irá para o ralo. O problema é que ele, ao saber que você pensa em deixar a empresa, poderá agir não como um amigo do peito, mas como um chefe deve agir, disparando imediatamente um processo de seleção para substituir você.
Luciana Tegon: É importante que o processo seletivo esteja mais evoluído antes de abordar esse assunto com o chefe para não criar um clima de intranquilidade sem motivos concretos. Se a decisão de ir embora for algo firme, comunique seu chefe, senão, amadureça a ideia com calma.
Eu cobiço o cargo do meu chefe. E agora?
Roberto Recinella: Não há mal nenhum nisso, desde que a estratégia envolva auxiliar o chefe a ser promovido e assim, se você estiver pronto e possuir as competências necessárias, assumir o cargo dele. E não o contrário , bolar uma estratégia para “puxar o tapete” dele.
Max Gehringer: Trabalhe melhor que seus colegas e mostre que você é um candidato à chefia caso o cargo fique vago.
Luciana Tegon: Almejar o cargo de alguém não é algo tão simples. Você terá que ser notado e percebido como um potencial de sucessão quando a posição estiver disponível. Há pessoas que tentam "derrubar" o chefe para poder assumir a cadeira, atitude totalmente equivocada, pois os demais da equipe e os superiores percebem as más intenções e esse não é um comportamento aceitável em uma empresa.
O que fazer quando se perde o respeito profissional pelo chefe e não há interesse em chegar no cargo dele? É hora de mudar de emprego?
Roberto Recinella: Mudar de emprego é uma opção, mas antes você pode pensar em algo menos radical, como mudar de setor, caso ainda tenha respeito pela empresa. Mas se você tiver perdido a “paixão” profissional tanto pelo chefe/amigo como pela empresa, mudar de emprego pode ser a melhor saída.
Max Gehringer: Não, pelo contrário. Se a maneira de ele dirigir uma equipe não lhe agrada, isso não quer dizer que você irá dirigir a equipe do mesmo modo caso seja promovido.
Luciana Tegon: Uma alternativa quando cabível seria mudar de área, assim estará sob nova gestão. Há casos em que a pessoa não quer pedir demissão da empresa e sim do chefe. Em grandes empresas essa situação é mais fácil de resolver, pois existe o RH com o qual você poderá falar. Em empresas menores esse movimento é mais difícil, neste caso, mudar de emprego talvez seja a solução mais acertada.
Posso fazer críticas sobre a atuação do chefe?
Roberto Recinella: Pode, desde que seja feito de forma respeitosa e em particular. Pergunte abertamente como ele gostaria que você abordasse as críticas.
Max Gehringer: Não. Quando você foi contratado, ficou sabendo de todas as atribuições de sua função. E posso lhe garantir que ninguém lhe falou que uma dessas atribuições seria a de avaliar a atuação do chefe.
Luciana Tegon: Desde que tais críticas sejam feitas com respeito e de forma construtiva, podem ser feitas. Coloque-se no lugar de seu chefe e pense sempre em como gostaria de ser criticado, você terá menos chances de errar ao colocar sua opinião.
Posso perguntar informações de bastidores da empresa?
Roberto Recinella: Pode, mas não deve. Querer obter informações privilegiadas é abusar do relacionamento. Se seu amigo/chefe for maduro, saberá separar as duas coisas e lhe dirá que não pode comentar determinado assunto. Caso ele decida fazer isso, deve ser justo e também comentá-lo com outros membros da equipe que ele julgue maduros para também receber tais informações.
Max Gehringer: Não. Esse é exatamente o erro que o subordinado-amigo não pode cometer, porque acabará cedo ou tarde implodindo a amizade.
Luciana Tegon: Depende do grau de intimidade que você tem com a pessoa a quem vai fazer a pergunta. Se não tiver liberdade, não pergunte, sob pena de ser interpretado como inoportuno.
RELAÇÃO COM O FUNCIONÁRIO
Como faço para demitir o funcionário do qual sou amigo?
Roberto Recinella: Se tiver que demitir faça-o da forma mais transparente e profissional possível através de dados e documentos separando o lado profissional do pessoal. Se o motivo da demissão for desempenho, lembre-se de que você era o responsável por cobrá-lo e monitorá-lo sobre isso e, caso não o tenha feito por receio de magoar ou abalar a amizade, cometeu um erro de gestão e com certeza o colaborador irá questioná-lo sobre isso e o motivo pelo qual você não o alertou antes para que ele pudesse corrigir suas atitudes e recuperar seus resultados. De qualquer modo, essa é uma situação que pode abalar a amizade se não for bem conduzida.
Max Gehringer: Procure recolocá-lo em outra empresa através de seus contatos. Isso atenua o desgosto pela demissão e mostra que, embora você tenha tomado uma decisão administrativa, nem por isso deixou de considerar a amizade entre vocês.
Luciana Tegon: Em regra, da mesma forma que demitiria outro funcionário. Explicar cuidadosamente os motivos da demissão e evitar criar "desculpas" para amenizar a dor do amigo. A verdade é sempre melhor conselheira do que uma mentira consoladora.
Posso indicar minha funcionária para uma nova posição na empresa?
Roberto Recinella: Claro, desde que ela realmente seja a melhor escolha para a posição, e o critério da indicação seja técnico e não pessoal. Também é importante que os demais colaboradores reconheçam isso para não surgir comentários do tipo: Ela só foi indicada por que é a queridinha do chefe ou, pior ainda, que esteja saindo com o chefe. Para que essa indicação dê certo, o chefe deve ser o mais profissional e transparente possível.
Max Gehringer: Deve, se na nova função ela puder ser mais efetiva do que na atual e tenha maiores possibilidades de desenvolvimento.
Luciana Tegon: Pode e deve. Se sua funcionária se destaca e pode ir mais longe dentro de uma empresa, sua indicação, além de ter um considerável peso, mostrará que seu estilo de liderança visa o crescimento e desenvolvimento de pessoas na organização.
Surgiu uma vaga na empresa. Posso indicar meu amigo para a vaga? Devo deixar claro nossa amizade na indicação?
Roberto Recinella: Você pode indicar qualquer pessoa, amigo ou não, desde que a pessoa seja competente para assumir a posição indicada. O fato de ser seu amigo não deve ser um fator primordial para a indicação, mas nada impede de expor esse fato para ajudá-lo caso sua posição permita, mas não pressione as pessoas responsáveis pela decisão. Lembre-se que se seu amigo for realmente bom você será parabenizado pela indicação, mas se ele for a pessoa errada você também será responsabilizado, então não privilegie a amizade sobre a competência.
Max Gehringer: Não é necessário. Ao indicar alguém, você está implicitamente revelando algum grau de amizade. Ninguém indica inimigos.
Luciana Tegon: Pode indicar dizendo que é seu amigo e que gostaria que ele fosse avaliado para a posição, o que indica que você não está pedindo para contratarem seu amigo, mas que é alguém que você conhece, confia e que pode ser qualificado para a posição em aberto, o que você pede na verdade é que ele seja incluído no processo seletivo junto com os demais candidatos.
Fiquei sabendo que minha funcionária vai ser mandada embora, mas não posso contar agora porque é sigiloso e a demissão será dentro de algumas semanas. O que eu faço?
Roberto Recinella: Se é sigiloso, fique de boca fechada, senão você pode colocar a sua carreira em risco. Esse é um dos ônus dos cargos de gestão, mas nada o impede de tentar defendê-la e reverter a situação quando for informado. Caso não concorde e ache injusta a demissão, sempre existe a possibilidade de você se demitir e acompanhá-la.
Max Gehringer: Tente recolocá-la em outra empresa antes da demissão, mas não revele nada a ela antes disso. Se lhe foi pedido sigilo, é sua obrigação profissional atender a esse pedido.
Luciana Tegon: Deve prevalecer o papel profissional, e o sigilo deve ser mantido.
Fonte: G1, 07 de maio de 2014.