Separar os laços familiares das relações profissionais é um dos principais desafios para que uma empresa familiar possa prosperar. Definir funções por competência, cobrar resultados e exigir de um membro da família o mesmo que se exige de um funcionário são algumas regras básicas que precisam ser seguidas nos negócios em família. 

No Brasil, quase 90% das empresas são formadas por membros da mesma família, porém, apenas 15% chegam até a terceira geração. "O melhor caminho é buscar a profissionalização da gestão, preparar esses herdeiros. É importante que eles tenham alguma experiência fora do ambiente familiar, para poderem lidar melhor com a hierarquia até mesmo antes de assumirem uma posição", frisa Madalena Feliciano, diretora geral da Outliers Careers, empresa familiar e especializada em gestão de capital humano. 

Trabalhando há mais de 40 anos no ramo comercial agrícola, Huguiyoski Sugeta, de 73 anos, criou em 2010 uma nova empresa, que recebe, armazena e comercializa grãos e produz sementes em Londrina. Na oportunidade, convidou os três filhos e um sobrinho para serem sócios. O empresário relata que o relacionamento com os filhos no trabalho é muito bom e a presença dos mais jovens tem sido fundamental para o crescimento da empresa. "O Eduardo e o Fábio, os meus filhos mais velhos, já trabalhavam comigo desde 1995 e nos momentos mais difíceis o sangue novo deles, junto com a capacidade e a competência, trouxe um outro ânimo e conseguimos ajustar o negócio. Sozinho talvez não tivesse chegado até aqui", conta. A empresa possui hoje 50 funcionários e três unidades de recebimento. 

A consultora Madalena destaca que a grande questão é separar a razão da emoção, já que os conflitos fazem parte da convivência humana e acontecem o tempo todo. O favorecimento de um familiar em detrimento de um funcionário também pode atrapalhar o ambiente de trabalho. "Colocar um filho ou outro parente, que muitas vezes é inexperiente e pouco motivado, em uma posição de destaque certamente vai frustar os demais funcionários. Muitas vezes eles vislumbram uma promoção pelos resultados que estão trazendo para o negócio. É algo que exige bastante cautela porque acontece muito nas empresas familiares", aponta Madalena. 

O agrônomo e paisagista Nérico Nakagawa, de 58 anos, herdou dos pais a paixão pelas plantas e flores. O pai, nascido no Japão, e a mãe, descendente de alemães, foram pioneiros no ramo no Norte do Paraná, onde começaram a atividade no final da década de 1960. Nakagawa trabalhou com os pais após a formação universitária e há 28 anos atua ao lado da esposa, Mirian Lopes Nakagawa, de 44. "Neste tempo diversos familiares já trabalharam conosco e hoje temos dois sobrinhos. É gratificante envolver toda a família no mesmo ramo. Temos as nossas divergências, mas a solução sempre aparece", garante. "Definimos a obrigação de cada um e cobramos resultados. Ninguém tem regalias, todos são tratados da mesma forma", garante Mirian. 

Huguiyoski salienta que existe muito respeito e diálogo entre os sócios e que é fundamental cada um assumir a sua responsabilidade. "Todos podem opinar, questionar, mas a decisão final fica para quem é o responsável pelo setor, que tem mais conhecimento técnico da área." Para o filho mais novo, Silvio Sugeta, de 37 anos, o grande desafio em uma empresa familiar é avaliar o potencial e afinidade de cada profissional. "Tivemos a felicidade de encaixar cada um no lugar certo. Algumas divergências e conflitos sempre há, mas o bom-senso tem prevalecido e os resultados, aparecido", frisa o diretor.

Fonte: Folha de Londrina, 19 de maio de 2014.