Mesmo que a gente tenha muitos pontos em comum com uma pessoa, que pode ser um grande amigo ou familiar, qualquer forma de convivência não é algo simples.
Haverá sempre alguma divergência de gostos, desejos, mas que é possível chegar a um denominador comum, sem grandes prejuízos.
No local de trabalho esta convivência pode complicar-se afinal as diferenças se acentuam através dos interesses de cada um, dos valores, tipos de personalidade, etc., uma vez que não escolhemos com quem iremos trabalhar. Assim, encontrar alguém que demonstre tantas qualidades e generosidade no ambiente profissional, facilitando a convivência, é quase um sonho. Mas, e se por trás de comportamentos tão gentis, estiver uma pessoa perversa, um psicopata?
Psicopata não é apenas aquele que mata como mostram os filmes de Serial Killers. Eles estão em qualquer segmento da sociedade. Este transtorno de personalidade antissocial pode se apresentar em graus variados, o que significa que nem todos são violentos ou agressivos. Mostram-se sedutores, gentis e inteligentes. Aparentemente inofensivos.
Em um ambiente de trabalho, os psicopatas podem estar em qualquer nível hierárquico de uma empresa, mas ambicionam sempre cargos de chefia, de poder. E não pense que é simples reconhecer este perfil. Eles são muito carismáticos e envolventes, o que dificulta levantar qualquer suspeita sobre aquela pessoa tão solicita. Contam mentiras, manipulam a verdade e sem qualquer sentimento de culpa, pelo contrário, quando descobertos a tendência é culpar os outros. Sabem como ninguém se vitimizarem.
A falta de empatia facilita a realização de seus objetivos sem qualquer tipo de remorso. A ausência de moralidade, de regras e a indiferença ao sentimento alheio, somado a bons argumentos, faz com que estes sujeitos não meçam esforços para satisfazer os próprios desejos. Na cara dura. O outro, com quem ele trabalha, é só um meio para obter aquilo que deseja como poder, status ou dinheiro e por isso a frieza é talvez a principal característica deles.
E quando você se depara com um tipo deste nem adianta fazer grandes discursos sobre regras morais, amor ao próximo etc. porque não vai surtir efeito. Os psicopatas têm seus próprios sistemas de valores e, portanto, não percebem o próprio comportamento como uma anomalia. Assim, puxam o tapete do outro sem dó, até porque compaixão é um sentimento inexistente dentro deles.
Entram nas empresas através de currículos pré-fabricados, com referências falsas e que nem sempre são checadas pelos avaliadores. Descrevem detalhes do trabalho, que nunca realizaram, com uma boa retórica. São altamente persuasivos.
Em alguns ambientes corporativos as dissimulações dos funcionários com estes traços de personalidade não vão muito longe uma vez que, por serem geradores de muitos conflitos, acabam sendo desligados da empresa. Já em outras corporações, com uma estrutura de funcionamento inescrupulosa, onde as regras são manipuláveis, elas atraem funcionários com características semelhantes, o que reforça a sua dinâmica. Uma empresa obcecada por lucro, e sem importar-se com seus colaboradores, psicopatas em cargos de liderança é um prato cheio para que a organização atinja tal objetivo, já que eles mostram resultados, só que deixam para trás questões éticas e morais.
É preciso estar atento, mas não é motivo pra achar que aquela pessoa da sua equipe que se mostra super parceira pode ser um psicopata. Menos. Os transtornos antissociais não representam nem de longe a maioria em uma empresa. No entanto, não custa observar o que está por trás daquele colega com tantas qualidades.
Fonte: G1, 18 de abril de 2017.