Nenhum candidato que empunhe a Reforma da Previdência como uma das bandeiras de seu mandato sairia vencedor em uma hipotética eleição direta para a Presidência da República, caso Michel Temer seja cassado nas próximas semanas.

Portanto, o mais democrático seria que deputados federais e senadores também não elejam qualquer pessoa que leve adiante essa reforma, caso a eleição seja por voto indireto.

É bastante provável que Temer saia ou seja retirado por conta do escândalo que veio à tona com a divulgação das delações dos donos do JBS. Neste momento de incerteza, enquanto parte da sociedade defende o voto indireto, tendo as elites políticas e econômica à frente, outra parte defende o voto direto, tendo movimentos sociais na dianteira.

Caso os ministros do Tribunal Superior Eleitoral cassem a chapa Dilma/Temer e decidam que vale o que está escrito no Código Eleitoral (e o entendimento seja confirmado pela Suprema Corte) uma eleição por voto direto deve ser convocada para escolher quem governará o país até 31 de dezembro de 2018.

Nesse caso, há grande chance da Reforma da Previdência ser enterrada. Pelo menos, a proposta que tramita hoje.

De acordo com pesquisa Datafolha divulgada no Primeiro de Maio, 71% da população brasileira é contra a Reforma da Previdência. Pesquisa Vox Populi havia apontado que 93% rejeita o aumento da idade de aposentadoria para 65 anos e do tempo mínimo de contribuição para 25 anos. Essa é a razão pela qual o governo Temer e os empresários que o apoiam tentam correr com a reforma: ela não sobrevive às urnas.

Isso já seria suficiente para o Congresso não aprovar um projeto rejeitado pela maioria da população. Mas, por coerência, também deveria reprovar um candidato que defenda esse mesmo projeto.

O problema é que este Congresso Nacional já rompeu todas as ligações possíveis com a vontade da maioria de seus eleitores. Neste momento, representa a si mesmo (afinal, a maior bancada é dos deputados-empresários) e a seus patrocinadores e financiadores de campanha. Além das forças políticas que prometeram salvá-lo da guilhotina das punições por corrupção.

O que mostra que a opinião dos eleitores é considerada como argumento importante apenas quando serve para depor um partido político adversário.

Temer está enfraquecido não ter conseguido segurar as investigações da Operação Lava Jato que atingem a elite política e entregar todas as reformas de redução do Estado desejadas pela elite econômica. Portanto, tende a ser substituído por alguém que se encarregará de terminar o serviço.

O problema não é reformar as leis trabalhistas ou as aposentadorias, mas tocar tudo de forma desesperada, sem debate público, sem direito a contraditório, sem análise minuciosa, sem considerar alternativas, sem cobrar uma contrapartida tributária dos mais ricos pelo impacto que será causado aos pobres e à classe média.

Se a população ainda tem um pouco de dignidade, que exercite sua memória. Caso o Congresso eleja alguém que siga com as reformas de Temer (e ele tende a eleger), o deputado e o senador que votarem nessa pessoa deveriam ter o mesmo destino daqueles que votarem pela Reforma da Previdência: o esquecimento nas urnas.

Fonte: Blog do Sakamoto, 30 de maio de 2017.