O grupo JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, responde a 34 mil ações trabalhistas. O dado está nas demonstrações financeiras de 2016 da empresa e pode representar perda de R$ 2,6 bilhões. Em 2015, havia 31,1 mil processos em andamento. Os números acompanham o aumento de 11% nos acidentes com funcionários, embora a ocorrência de lesões mais graves tenha diminuído no Brasil. A empresa atribui a alta ao maior número de funcionários, embora o total de colaboradores tenha crescido menos de 1% no último ano. Entre os 2.680 registros de acidentes, 791 levaram a afastamentos e houve seis mortes. Os dados incluem doenças, ocorrências operacionais e no trajeto até o trabalho.

A diversificação das atividades dos 127,7 mil colaboradores da JBS ­além do abate, há produção de couro, cosméticos, margarina, entre outros­ dificulta a comparação entre taxas da empresa e da indústria nacional. A incidência de acidentes na companhia está em linha com as médias no segmento de carnes. A concorrente BRF informou que, em 2016, reduziu o número de acidentes no Brasil No exterior, porém, as taxas subiram, segundo o relatório de sustentabilidade. Em maio, um dos frigoríficos da JBS foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 12 milhões como resultado de ação que apontava tempo de trabalho excessivo na unidade de Itaiópolis (SC). O Tribunal Regional do Trabalho de Santa Catarina informou que a empresa não recorreu da decisão judicial até a última sexta­feira (2), mas ressaltou que ainda há prazo para questionar a decisão em segunda instância. "O trabalho em frigorífico já é adverso devido ao ambiente frio e à maior ocorrência de movimentos repetitivos em cortes de carne", afirma o procurador Bruno Choairy, de Mato Grosso. Ele destaca que, em ambientes insalubres, não podem ser realizadas horas extras. A JBS foi condenada a adotar medidas de saúde e segurança do trabalho na unidade de Alta Floresta, em Mato Grosso, onde ocorreu vazamento de amônia. A companhia recorreu em abril, mas o pedido foi negado pelo Tribunal Regional do Trabalho. Na ação, o MPT relatou que o vazamento levou 17 funcionários ao hospital. Quando computadas operações no exterior, as taxas de acidentes do grupo JBS e da BRF aumentam. O total de acidentes com afastamento na JBS EUA subiu de 158 para 286 entre 2015 e 2016. Na americana Pilgrim's, que faz parte do grupo, passou de 90 para 146. O último relatório de sustentabilidade da BRF mostra que as lesões com afastamento cresceram de 289 para 306 entre 2015 e 2016, considerando empregados diretos no Brasil, na Argentina, em Abu Dhabi e na Malásia. No mesmo documento, a empresa diz ter 111,9 mil empregados.

 

EMPRESA AFIRMA TER PROGRAMA DE SEGURANÇA E SAÚDE

 

A JBS afirma que conta com um programa de segurança e saúde de autogestão a fim de padronizar os processos internos, programas e legislações em relação à segurança e saúde ocupacional. "Tais procedimentos estão alinhados às normas regulamentares com o objetivo de reduzir os acidentes", afirma a empresa. Sobre ações trabalhistas, a dona das marcas Friboi e Seara informa não comentar processos em andamento. Entre as medidas preventivas que a empresa está cumprindo, segundo o MPT de Mato Grosso, está a adoção da "pausa térmica", que estipula descanso de 20 minutos para cada 1h40 de trabalho em temperaturas baixas. A JBS não informou os motivos da elevação nas taxas de acidentes de trabalho no exterior. Segundo um analista, o aumento nas atividades do grupo pode ter contribuído para um maior número de ocorrências registradas. Procurada pela reportagem, a BRF, dona da marca Sadia, informou por meio de nota que "assegura saúde e segurança do trabalho como um valor e possui suas diretrizes estabelecidas e divulgadas por meio do Sistema de Gestão de Programa de Segurança, Saúde e Meio Ambiente (SSMA), que passou por revisão em 2016".  

Fonte: UOL, 05 de junho de 2017.