Depois do nascimento do filho Eric, Ivson Sampaio, 32 anos, tinha uma rotina como outra qualquer: trabalhava, pagava as contas e, no tempo livre, se dedicava ao filho. Tempos depois, o publicitário começou a se incomodar com a possibilidade de ver o filho crescer distante. "Foi quando pensei que, em troca de estabilidade, ficava longe do meu filho. E, a partir desse momento, comecei a cogitar trabalhar por conta própria e administrar meu próprio tempo", diz Sampaio. Ele não está sozinho. De acordo com a Workana, plataforma de trabalho freelance com atuação em toda a América Latina, a atividade cresceu mais de 181% em 2016. Para se ter ideia, 47% dos freelancers cadastrados no Brasil têm filhos.

Como Eric mora com o pai, a opção por ser freela caiu como uma luva. "Até porque dava para manter os gastos do meu filho e ainda economizar R$ 800 com alimentação fora de casa e deslocamento", comenta, destacando que, apesar de a decisão ter sido tomada há pouco tempo, a qualidade de vida com o filho melhorou significativamente. 

"Eu tento criar uma rotina como se estivesse fora de casa, até para impor algumas regras. Não sei se essa decisão vai ser definitiva, mas posso dizer que foi a melhor que poderia tomar neste momento. É tanto que estou conseguindo conciliar nossa atividade física, coisa que não fazíamos antes", revela. 

Cofundador da Workana, Guillermo Bracciaforte, explica que o perfil dos pais vem mudando e provocando reflexos no mercado de trabalho. “Cada vez mais temos pais que sentem a necessidade de cuidar dos filhos e dividir igualmente as tarefas com a mulher. 

Isso se alia à busca dos profissionais pela harmonia entre vida profissional e pessoal e tem um efeito muito positivo, já que um pai que participa mais em casa proporciona mais liberdade para que a mãe também siga com sua carreira profissional”, explica Bracciaforte.

A plataforma aponta também que essa busca por um trabalho mais flexível colabora para o crescimento da atividade freelance e proporciona aos profissionais novas oportunidades. Dentre os usuários da Workana, cerca de 60% trabalham como freelancer em tempo integral, sem conciliar com outro emprego.

Na visão do financista Arthur Lemos, tomar essa decisão requer disciplina. "É preciso dividir o tempo e ter respaldo econômico-financeiro, buscando um suporte de um profissional que consiga desenhar um plano de negócio", sugere. Lemos faz o alerta porque a taxa de mortalidade nos primeiros cinco anos de uma empresa é alta. 

Nove em cada 10 empresas fecham as portas por conta da má gestão. Já para o especialista em educação financeira, Mauro Torres, caso o profissional não esteja seguro em fazer a mudança, a sugestão seria optar por uma transição progressiva. "No começo, ele pode reduzir a carga horária e, em paralelo, dar início ao projeto liberal", orienta. Torres ressalta ainda que, mesmo trabalhando em casa, não se pode deixar de lado o investimento em capacitação. 

Fonte: Folha PE, 14 de agosto de 2017.