O horário de verão de 15 de outubro de 2017 a 17 de fevereiro de 2018 pode não acontecer. O governo federal disse estar “avaliando a conveniência” de manter a política de adiantar em uma hora os relógios nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil. O fim do acerto de relógios, atualmente debatido por um grupo de trabalho na Casa Civil, dependerá apenas do aval do presidente Michel Temer para passar a valer, dispensando a necessidade de ser aprovado pelo Congresso.
Origem e função do horário de verão
A prática de se adiantar uma hora no relógio quando chega o verão não começou no Brasil. O primeiro país a adotá-la foi a Alemanha em 1916 – por lá, o debate pelo fim do horário também existe.
O objetivo original da mudança de horário era o de reduzir o consumo de energia (por queima de carvão) durante a Primeira Guerra mundial.
A ideia parte do fato de que no verão, em razão da inclinação do eixo de rotação da Terra, os dias são mais longos.
Em teoria, ao adiar os relógios, as pessoas aproveitam mais a luz do dia nas horas úteis e gastam menos energia em casa ou no trabalho.
No Brasil, o horário de verão é adotado, com algumas interrupções, desde 1931, sob o governo de Getúlio Vargas.
Atualmente, a política afeta estados das regiões mais distantes do país em relação à Linha do Equador (onde os dias tem uma variação maior no verão): centro-oeste, sul e sudeste.
O objetivo por aqui é o mesmo: economia de energia elétrica durante o horário de pico de gasto, entre 18h e 19h, horário que boa parte dos brasileiros chega em casa do trabalho.
Há ainda um segundo efeito positivo e desejado pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico): a redução de sobrecarga no sistema de geração e transmissão de energia do país. Tal sobrecarga poderia resultar, por exemplo, em apagões.
A economia colabora também para uma chance menor de o governo ter de recorrer ao uso de energia termelétrica (queima de carvão), opção que é cara e mais poluente.
Adiantar ou não adiantar o relógio
A avaliação sobre a necessidade de haver ou não horário de verão foi feita inicialmente pelo ONS, entidade privada sem fins lucrativos regulada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O operador nacional é responsável pelo gerenciamento da produção, transmissão e comercialização de energia elétrica no Brasil.
Um estudo realizado pelo ONS em julho mostrou que, em razão de “mudanças no perfil e na composição da carga” nos últimos anos, o horário de verão vinha trazendo “resultados próximos à neutralidade”, tanto sobre a economia de energia, quanto para a redução de sobrecarga do sistema elétrico no país.
Em outras palavras, o horário de verão, segundo avaliação do ONS, deixou de dar os resultados esperados na economia de energia.
Para o verão que começava em 2015, o ONS esperava uma redução de 4,5% do uso de energia elétrica, o que geraria uma economia de R$ 240 milhões. Quando o horário de verão acabou, em fevereiro de 2016, a realidade se mostrou diferente. A economia havia sido de apenas R$ 162 milhões.
No verão seguinte (entre 2016 e 2017), a expectativa foi bem mais baixa – R$ 147,5 milhões –, mas o resultado acabou sendo uma economia de R$ 159,5 milhões.
Por que o horário de verão perdeu relevância
A queda de redução de energia é a principal razão para o governo avaliar a manutenção da política. Estudo do ONS obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo em julho apontava que o horário de verão passou a apresentar “efetividade decrescente” nos últimos anos porque o perfil de consumo de energia do brasileiro mudou.
Antes, a política mirava no uso de chuveiro, luz elétrica e demais eletrodomésticos na faixa de horário de retorno do trabalho para casa, entre 17h e 20h. De acordo com o estudo, esse horário de pico mudou para o começo da tarde, período em que o calor é mais intenso. A culpa disso, avaliam, é a popularização do ar-condicionado.
“Antes, o chuveiro era o vilão do setor elétrico. Hoje, é o ar condicionado”, disse Nelson Leite, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, na época ao jornal.
Assim, em razão do calor, toda a economia permitida com a política de horário de verão sobre o intervalo 17h-20h perdeu relevância perto do aumento de consumo de energia em outras faixas de horário.
Destaque para as madrugadas (entre meia-noite e 7h) que passaram a contar com um aumento do uso de ar-condicionado por quem busca uma noite de sono mais frescas.
Ainda ao jornal paulista, o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, afirma que a decisão de acabar ou não com o horário de verão não deve se restringir ao aspecto de economia para o setor elétrico.
“Se não adotássemos mais o horário de verão, isso não seria um problema para o setor elétrico. Mas ele traz ganhos inegáveis para o setor de turismo e para a população”, disse, referindo-se aos benefícios de mais tempo de sol ao comércio, por exemplo, em cidades com praia.
“Na maioria dos países desenvolvidos, existe horário de verão ou inverno, ou até os dois. E nenhum deles faz isso por economia de energia”, afirmou.
Fonte: Nexo, 22 de setembro de 2017.