Parte dos efeitos do ciclo de alta dos juros, interrompido na última semana, ainda será sentida pela inflação, segundo o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A avaliação consta da ata da última reunião do comitê, que manteve a Selic em 11%.

Na reunião do Copom anterior, realizada em abril, o BC tinha avaliação semelhante. Na ocasião, porém, informava que "parte significativa" da alta de juros ainda teria efeito na inflação.

"Além disso, é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados", acrescentou a autoridade monetária no documento divulgado hoje.

Os economistas dos bancos acreditam que o BC não realizará novos aumentos na taxa básica de juros da economia deste ano. A previsão dos analistas é de que a taxa permanecerá no atual patamar de 11% ao ano até o fechamento de 2014.

Ciclo de alta e política de juros 'vigilante'
Quando o ciclo de elevação começou, em abril do ano passado, os juros estavam na mínima histórica de 7,25% ao ano. Até a semana passada, quando o processo de elevação foi interrompido pelo Banco Central, avançaram 3,75 pontos percentuais. Durante os 13 meses desse processo de alta, houve nove elevações seguidas da Selic.

O Copom também informou, por meio da ata divulgada nesta quarta-feira, que, em momentos como o atual, a política monetária (definição dos juros para controlar as pressões inflacionárias) deve se manter "vigilante" - de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária.

Metas de inflação e perspectiva do mercado
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país.

Para 2014 e 2015, a meta central para o aumento dos preços é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente.

A estimativa dos analistas do mercado financeiro é de que o IPCA some 6,47% neste ano, ou seja, muito próximo do teto de 6,5% do sistema de metas de inflação.

Inflação resistente
O Copom manteve a avaliação de que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses "contribui para que a inflação ainda mostre resistência".

"Concorrem para isso dois importantes processos de ajustes de preços relativos ora em curso na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres. O Comitê reconhece que esses ajustes de preços relativos têm impactos diretos sobre a inflação e reafirma sua visão de que a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem deles decorrentes", acrescentou.

Nível de atividade
O Banco Central informou ainda que o ritmo de expansão da atividade doméstica "tende a ser menos intenso este ano", em comparação ao de 2013, quando o Produto Interno Bruto (PIB) avançou 2,5%, e que, no médio prazo, "mudanças importantes devem ocorrer na composição da demanda e da oferta agregada".

"O consumo tende a crescer em ritmo mais moderado do que o observado em anos recentes; e os investimentos tendem a ganhar impulso. No que se refere ao componente externo da demanda agregada, o cenário de maior crescimento global, combinado com a depreciação do real, milita no sentido de torná-lo mais favorável ao crescimento da economia brasileira", avaliou o Copom.

Pelo lado da oferta, o Comitê avalia que, "em prazos mais longos", aparecem perspectivas mais favoráveis à competitividade da indústria, e também da agropecuária; e o setor de serviços tende a crescer a taxas menores do que as registradas em anos recentes. 

Fonte: G1, 05 de junho de 2014.