O Ministério do Trabalho, junto com a Polícia Federal, fez uma operação nas lavouras de café do Norte do Espírito Santo, nesta quarta-feira (4). Em apenas uma fazenda, na localidade de Córrego Alegre, zona rural deSooretama, foram considerados 15 autos de infração. Segundo os fiscais, cerca de 100 homens da Bahia, que foram trabalhar na colheita de café, vivem em condições análogas a de escravidão. Entre as irregularidades, a fiscalização encontrou esgoto a céu aberto em um dos abrigos. A multa e a regulamentação de pagamento desses trabalhadores pode custar até R$ 1 milhão ao dono da propriedade. O gerente da fazenda informou que não sabia que a situação estava ocorrendo.
A fiscalização ocorreu após denúncia feita através de reportagem do Jornal A Gazeta. Os fiscais explicaram que, nessa fazenda em Córrego Alegre, encontraram esgoto a céu aberto, passando por dentro de um dos abrigos e sendo despejado ao lado dos dormitórios, assim como depósitos de lixo próximo à área de convívio dos trabalhadores. Os banheiros não são azulejados, o que é uma exigência de higiene do Ministério do Trabalho. O dono da propriedade também não oferecia papel higiênico e nem sabonete.
Os abrigos não têm janela e dentro de um deles há uma rede de esgoto, que passa próximo a camas e da cozinha. Os trabalhadores contaram que dorme e se alimentam sentindo o mal cheiro.
Durante a fiscalização, o dono da propriedade não estava no local, pois viaja para a Bahia. O gerente da fazenda falou que não sabia que a situação estava ocorrendo, mas que não vê problemas porque a mesma fiscalização ocorreu na última semana e nada ocorreu.
O auditor fiscal Rodrigo de Carvalho explicou que foram identificados, no mínimo, 15 autos de infração no local. Além de todas as citadas na reportagem, a fiscalização descobriu que as carteiras de trabalho dos funcionários não havia sido devolvida, estavam no município de Vila Valério. Conforme a lei, os documentos deveriam ter sido devolvidos em um prazo de até 48 horas, depois da contratação.
Segundo os trabalhadores, o pagamento também não está em dia. Dessa forma, somando-se o valor dos pagamentos atrasados e da multa que será aplicada, o dono da propriedade pode pagar quase R$ 1 milhão.
Denúncias
A fiscalização continua em outras propriedades no interior do Espírito Santo. Outros trabalhadores, abordados por fiscais, contaram que viajaram até 2 mil quilômetros para chegar às fazendas, onde são submetidos a jornadas exaustivas de trabalho, morando em alojamentos insalubres. Para a reportagem de A Gazeta, uma jovem de 20 anos relatou que precisou viajar em um ônibus clandestino de Salvador para chegar a uma colheita de café conilon, no Norte do Espírito Santo.
A mulher, que preferiu não ser identificada, disse que a situação é degradante. "Fui enganada. Deixei minhas filhas em casa, viajei por dois dias, e agora trabalho 15 horas por dia só para conseguir voltar para minha cidade. Estou incomunicável, me sinto no inferno, como se não fosse humana”, disse.
Segundo o Ministério do Trabalho, durante o mês de maio, foram lavrados cerca de 90 autos de infração e até o final da colheita, o órgão pretende fiscalizar mais de 250 fazendas. A maior concentração está nos cafezais de Sooretama, Vila Valério, Jaguaré, São Mateus e Linhares.
Fonte: G1, 05 de junho de 2014.